O texto a seguir ao da imagem: «(...) Desde muito cedo a entrar no mundo artístico pela via das canções, artista de cabaré conceituada e acedendo velozmente à celebridade, Marlene atreveu-se a recusar uma proposta excepcional do ministro da propaganda alemão, o nazi Joseph Goebbels, em 1936, prosseguindo a sua carreira no Estados Unidos, e, mais tarde, tornando-se cidadã norte-americana e subindo os degraus todos da fama, principalmente em Hollywood, conhecendo, trabalhando ou relacionando-se com, Hitchock, Lubitsch, Orson Welles, Billy Wilder, Greta Garbo, Gary Cooper, James Stewart, Jean Gabin, Dolores del Rio, Yul Brinner, os escritores Erich Marie Remarque e Mercedes de Acosta e com Edith Piaff (sempre que ía a Paris), entre outros, como Burt Bacharach, arranjador das suas canções, Peter Bogdanovich, que era seu admirador e, principalmente, sendo dirigida por Joseph von Sternberg, que foi o realizador de O Anjo Azul, passo de gigante na carreira da actriz/cantora e que lhe valeu um contrato de sonho com a Paramount. Rodou mais de 50 filmes, entre os quais Marrocos (foi nomeada para um Oscar), O Expresso de Xangai, O Jardim de Alá, O Diabo Feito Mulher ou O Julgamento de Nuremberga (dirigido por Stanley Kramer, que conta a «estória» de quatro juízes alemães que se serviram dos seus cargos para permitirem e legalizarem crimes nazis contra o povo judeu durante a II Guerra Mundial).
Praticou boxe, coisa, na época, «escandalosa» para uma mulher, mas Marlene Dietrich viveu sempre a sua vida não respeitando os valores vigentes, que considerava hipócritas, em termos de comportamento ou nas suas relações mais ou menos íntimas.
As suas canções (Lola, I May Never Get Home Anymore, a interpretação de La Vie en Rose) correram mundo e ainda agora, na voz e interpretação de Ute Lemper, cantora de créditos firmados e actriz que representou Fassbinder e Tchecov, foi escolhida por Andrew Lloyd Weber para a versão vienense de Cats, tendo Maurice Béjart composto para ela o ballet La Morte Subite, preenchem grandes espectáculos nos quais se ouvem músicas, por exemplo, de Kurt Weil, parceiro de Bertolt Brecht na construção de grandes cantigas. Ute Lemper, que idealizou o seu espectáculo de homenagem a Dietrich após manter com ela, ao telefone, uma conversa de três horas, já apresentou esse show em Portugal – Rendezvous with Marlene – e nele se ouviram canções como Lily Marlene, Where Have All the Flowers Gone? (de Pete Seeger), ou Ich Bin Die Fesche Lola.
Com as armas que tinha na mão…
Com Billy Wilder e outros amigos criou um fundo para ajudar judeus a fugir da Alemanha. Em 1937, todo o seu salário do filme Cavaleiros Sem Armadura foi doado para ajudar os refugiados. Actuou para soldados, durante a guerra, nas frentes da Argélia, de Itália, da Grã-Bretanha e da França. Ia onde achava que podia ser útil à causa da Paz e da Liberdade. Teve, como já se disse, a coragem de dizer não ao todo poderoso Goebbels.
Por tudo isto tornou-se persona non grata no seu país de origem, que demorou (demasiado) tempo a reconhecer em Dietrich a grande mulher que foi. Mas foi agraciada, em 1947, com a Medalha da Liberdade, o mais alto galardão dos EUA para civis e, em 1950, o governo francês distinguiu-a com o título de Cavaleiro da Legião de Honra. Também foi homenageada na Bélgica e em Israel.
Uma grande actriz. Uma cantora especial. Uma mulher livre e singular. E, apesar de tudo isso ou, até, por defender tudo isso, actuante, lutadora. Um soldado, com as armas que tinha na mão».
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