«A relação com a mais primitiva forma de arte,
desconhecida ainda da menina que então rabiscava sobre as fragas do
Vieiro, não só não é novidade no modo de desenhar e de pintar de Graça Morais,
como tem sido, ao longo de mais cinquenta anos de vida artística, fonte geradora das
mais diversas pesquisas formais e pictóricas pelo "homem-bisonte", com mais de 14 mil anos, a enigmática figura conhecida encontrada na caverna de Les
Trois-Frères, em França, é uma das muitas referências da arte do *Paleolítico que
Graça Morais transfere para sua pintura. Como tantas das suas geniais *metamorfoses,
essa invulgar representação, meio homem, meio animal, tornar-se-ia personagem de um
dos monumentais cenários que realiza, em 1993, para a peça Os Biombos, de *Jean
Genet, levada à cena pelo Teatro Experimental de Cascais.
Não é, por isso, raro que
esta *iconografia, especialmente as figurações de animais ou de figuras femininas como a
*Vénus de Willendorf, habitem, como protagonistas, os seus desenhos e pinturas. Os
exemplos são inúmeros, sobretudo nos trabalhos que realiza nas décadas de 1980 e
1990, particularmente das séries Mapas e o Espírito da Oliveira ou os Vieiros, que
apresentara, em 1983, na XVII Bienal Internacional de Arte de São Paulo, no Brasil, e,
posteriormente, nos Museus de Arte Moderna de S. Paulo e do Rio de Janeiro.
Os colossais *telões que
concebe, em 1995, para a cenografia da peça Ricardo II, de *William Shakespeare, para o
Teatro Nacional D. Maria II (que pela escala foi impossível apresentar nesta exposição),
são também sucedâneos das múltiplas leituras tomadas à arte ancestral. Não apenas
pela forma como cita e se apropria de cores e texturas, mas sobretudo pelo modo como
transfigura os animais que ressaltam das paredes das famosas cavernas de *Chauvet
ou de *Altamira.No entanto, esta sintonia com arte do *Paleolítico sobressai
sobretudo no seu virtuoso desenho, visível na sobreposição de linhas e formas, na interrupção
abrupta do traço ou a aglomeração dos elementos, onde a relação com as
gravuras do Côa, não só salta à vista, como é transversal ao conjunto de trabalhos, alguns
deles inéditos, criteriosamente reunidos para esta exposição». Veja mais.
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