sábado, 2 de setembro de 2023

«Beijos» - que nos levem a pensamento estratégico do sec.XXI e a outra ação na esfera das igualdades

 

«O beijo roubado é um quadro do pintor Jean-Honoré Fragonard, realizado por volta de 1790, que se encontra no Museu Hermitage de São PetersburgoRússia». Veja mais na Wikipedia.

«O beijo (original em alemãoDer Kuss) é uma pintura a óleo com adição de folhas de ouroprata e platina do pintor simbolista austríaco Gustav Klimt[1]. Foi criada em algum ponto entre 1907 e 1908, no período que os estudiosos da arte chamam de "Fase Dourada". Foi exibida em 1908 com o título de Liebespaar (Os Amantes, em alemão)[2] conforme constava no catálogo da exposição. A pintura retrata um casal abraçando um ao outro, com seus corpos enrolados em um belo manto decorado influenciado pelo estilo contemporâneo da Art Nouveau e pelas formas orgânicas do movimento artístico Arts and Crafts.

Hoje a pintura é exposta na Galeria Österreichische Belvedere da Áustria (Österreichische Galerie Belvedere, em alemão) no Palácio Belvedere, em Viena e é considerada a obra-prima da Secessão de Viena (variante local da Art Nouveau) e a obra mais popular de Klimt depois do Retrato de Adele Bloch-Bauer I[3].» - Saiba mais na Wikipedia.


Um dos símbolos da Pinacoteca de Brera em Milão é a obra O beijo (Il bacio) de Francesco Hayez pintado em 1859. A tela é pequena (112 x 88 cm), mas ilustra com emoção o intenso e apaixonado beijo de um jovem casal de namorados vestidos com trajes medievais. Saiba mais.

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A  HISTÓRIA  NADA  ROMÂNTICA  POR  TRÁS  DO  BEIJO  NO  FIM  DA  SEGUNDA  GUERRA - Veja  aqui

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Desde logo, aproveitemos o «momento» do beijo «Rubiales/Hermoso» para revisitar outros beijos fixados pela «arte», como se ilustra acima. Mas não esqueçamos o presente para refletirmos o essencial na esfera das «igualdades», e olhemos para alguns dos artigos que se podem ler na comunicação social nomeadamente  escrito por homens, no caso no semanário Expresso desta semana. E atente-se na cobertura que é dada:

Uma coisa chamada Europa civilizada — que o Papa Francisco acusa de nada fazer para tentar pôr fim à guerra na Ucrânia e, pelo contrário, estimular a sua continua­ção — anda há uma semana profundamente entretida e embrenhada na discussão do beijo do século. Não, nada de comparável ao célebre “Baiser de l’Hôtel de Ville”, imortalizado pelo fotógrafo Robert Doisneau, mas sim o beijo que o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, pregou na boca de Jenni Hermoso, jogadora da equipa espanhola, acabada de se sagrar campeã do mundo. Desde a primeira página do “Le Monde” até toda a “imprensa de referência”, escrita, falada ou vista, não tem havido cabeça pensante da Europa civilizada que não se tenha apropriado do transcendente assunto para sobre ele lavrar a sua douta sentença. Para quem, como eu, se apercebeu tarde da importância do acontecimento, o atraso é agora irremediável para o apuramento da verdade dos factos, tamanhas são as sucessivas alterações das versões, as filmagens do crime e respectivos ângulos, a entrada em cena de cada vez mais testemunhas e juízes com opiniões definitivas. Terá o beijo sido espontâneo ou pensado? Dado na emoção do momento ou característico da banalidade do abuso sexual do personagem? Consentido ou forçado? Mútuo ou imposto? Foi ele que pegou nela ou ela que pegou nele? Ele abraçou-a ou ambos se abraçaram? A primeira declaração dela, retirando importância ao assunto, foi sincera ou forçada pela federação? E a declaração posterior, desmentindo a primeira, é afinal a verdadeira ou foi forçada pelo sindicato? Tudo, como se compreende, questões palpitantes, mas agora já ultrapassadas pela dinâmica da história. Luis Rubiales vai a caminho do cadafalso, expurgado de entre a gente civilizada pela Europa dos valores, a mesma que abandonou as mulheres do Afeganistão à barbárie talibã, e abandonado à sua merecida sorte pela UEFA e pela FIFA, as donas do jogo, hoje completamente seduzidas pelo dinheiro do mundo árabe, onde, como se sabe, as mulheres são tratadas com um respeito e uma dignidade de fazer inveja a Jenni Hermoso. (...) - Miguel Sousa Tavares.

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Mais um recorte do trabalho de Henrique Monteiro: 
«Penso não haver um cidadão no país que não conheça esta novela. Começou com a vitória da seleção feminina de futebol espanhola no campeonato do mundo. Então, um senhor de que poucos teriam ouvido falar, chamado Luis Rubiales, presidente da Federação, beijou nos lábios, sem consentimento e com o desagrado, manifestado posteriormente, a capitã da equipa (no filme do autocarro pareciam todas animadas).

Não está em causa o comportamento do Sr. Rubiales, a sua desfaçatez, a intromissão forçada e desconchavada nos festejos, a sua alarvidade, se me é permitido julgar. Essa foi visível, e em direto. Nem aponho qualquer ‘se’ ou ‘mas’ à sua atitude. Porém, parece-me evidente que o caso não merece uma semana de abertura de telejornais pelo mundo fora, ou um conjunto de primeiras páginas de jornais (e não só tabloides sensacionalistas, mas jornais de referência em todos os idiomas, que afinaram pela mesma nota).

Sei agora que o Sr. Rubiales já tinha os seus ‘rabos de palha’, por assim dizer. Suspeito de negócios obscuros com o ex-jogador do Barcelona Gerard Piqué; deslocou-se a Nova Iorque, com a amante, a custas da Federação; pôs as mãos nos genitais à frente da rainha; enfim, é uma figura pouco simpática, para dizer o menos. O Ministério Público espanhol abriu-lhe um processo por ‘agressão sexual’; o Governo do PSOE, com a compostura digna de quem negoceia o poder com partidos que nem reconhecem o Rei, nem Espanha — e em consequência a rainha e a Federação Espanhola —, veio avisar que tudo fará para que o Sr. Rubiales seja afastado; a FIFA, que é um poço de virtudes (basta ler o artigo de Miguel Poiares Maduro na semana passada, aqui no Expresso), suspendeu-o. Mas se Miguel entende a reação como algo contra a impunidade no desporto, o que seria bom, já eu sou mais cético. Só me vêm à cabeça coisas sem nexo. Como o PSOE estar interessado em entreter as pessoas com um caso que afasta as atenções da sua traição à integridade de Espanha, ou a FIFA ter algo (ou muito) a esconder... O caso Rubiales é, evidentemente, grave, mas não será o mais grave de todos os crimes que se cometeram; e se o facto de ter sido feito em direto, perante as televisões, o torna mais simples de denunciar, isso dever-nos-ia levar, com a frieza necessária, a não tomar o mais fácil pelo mais importante. O beijo de Rubiales é notícia, claro, mas teve primazia relativamente às barbaridades da guerra; às consequências da morte de Prigozhin; aos cambalachos das eleições espanholas, para não falar de sensaborias como a cimeira da nossa CPLP. Todos os dias tivemos mais uma organização ou personalidade a pronunciar-se sobre o crime de Rubiales, que nunca pediu desculpa, mas soube arranjar umas desculpas... todos os dias durante mais de uma semana. (...)».

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Do artigo de Alexandra Leitão:

«(...) No desporto há ainda um longo caminho a percorrer no combate à discriminação entre homens e mulheres, desde a ocorrência de casos arrepiantes de agressão sexual — como o de Larry Nassar, médico das seleções de ginástica dos EUA, que abusou sexualmente de centenas de atletas menores durante anos, perante a indiferença da federação americana de ginástica —, até ao facto de os prémios auferidos nas várias modalidades serem diferentes, sempre muito mais reduzidos para as competições femininas. De facto, mesmo nos Jogos Olímpicos, em muitas modalidades os prémios para as mulheres são inferiores aos dos homens, e isso ainda é mais acentuado em torneios profissionais, desde o atletismo ao ténis, incluindo desportos coletivos e individuais. Pode argumentar-se que nestes casos estão em causa competições organizadas por entidades privadas e que os torneios masculinos geram mais lucros e, por isso, justificam prémios mais elevados. Mas estes argumentos não colhem. As entidades privadas também estão vinculadas aos direitos fundamentais, em especial ao princípio da igualdade, e o lucro não pode ser o único critério, até porque muitas destas competições beneficiam de apoios e financiamento públicos.

Em Portugal, o grupo de trabalho nomeado pelo Governo em meados de 2022 para a igualdade no desporto recomendou, no início deste ano, às federações desportivas e entidades de utilidade pública que garantam a equiparação dos valores atribuídos pela representação em seleções nacionais masculinas e femininas. Esperemos que assim venha a acontecer e que se estenda a todas as formas de participação desportiva. (...)».

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De lá, do artigo de Daniel Oliveira:

«Não é difícil imaginar a adrenalina que empurrou Luis Rubiales para o contacto físico com quem partilhava ou a quem devia uma vitória histórica. Mas não é na maldade da intenção, que só o próprio pode conhecer, que se traça a fronteira do abuso. É na vontade do outro. Não resulta da natureza das coisas que um abraço seja diferente de um apalpão e um beijo na cara não seja o mesmo que um beijo na boca. São normas culturais de convivência. Quando alguém as ultrapassa unilateralmente, fá-lo por sentir que a sociedade será benevolente. Rubiales deu o despropositado beijo na boca de uma atleta subordinada porque a euforia libertou instintos masculinos vindos de séculos de poder sobre os corpos das mulheres. O oposto dificilmente poderia acontecer.

Muitos dizem que já não é fácil saber onde está a fronteira, por estes dias. Os homens sempre souberam, com rigor milimétrico, onde ela fica. Sabem-no e fazem-no saber quando outro homem toca nas “suas” mulheres, sejam companheiras ou filhas. E quanto mais conservadores forem esses homens mais rigorosa é essa fronteira. É nas sociedades mais machistas, como a espanhola ou a portuguesa, e não nas sexualmente mais liberais, que o abuso sobre as mulheres é comum. E são os mesmos machos que vigiam com zelo de proprietário cada aproximação às “suas fêmeas” que dizem ter mais dificuldade em perceber onde começa o abuso e falta o consentimento. Quanto mais intolerantes com o contacto físico de outros com as suas companheiras, mais licen­ciosos no contacto físico com as mulheres em geral. Pela mesmíssima razão: poder. (...)».

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Face a isto que se transformou numa «novela», não deveriam as nosssas INSTITUIÇÕES responsaveis,  implicadas e interessadas nas IGUALDADES,numa perspectiva profissional, aproveitar para lançar reflexões e consequentes ações transformadoras? Necessariamente, a nossa resposta é SIM. E a nosso ver a nossa CIG devia tomar a dianteira e procurar novos paradigmas de atuação. Como de há muito defendemos concentremo-nos nas ORGANIZAÇÕES. Ah, e recorrer ao Poder na CULTURA E DA ARTE de uma forma continuada, permanente e sistemática...

 

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