
«A extraordinária história dos Europeus Africanos.
Que papel, tão desconhecido, tiveram na evolução do continente europeu?
É amplamente difundida - e aceite, pela generalidade das pessoas - a ideia de que a presença de africanos na Europa é recente. Em Europeus Africanos, Olivette Otele, uma das grandes historiadoras da atualidade, desfaz esse lugar-comum e oferece-nos a inédita história dos europeus de ascendência africana na Europa.
Do século III até ao século XXI, a autora resgata a longa herança africana através da vida de pessoas comuns e extraordinárias, traçando uma história desconhecida. Nada é deixado ao acaso: o longo caminho de Europeus Africanos vai do imperador Sétimo Severo aos escravos africanos que viveram na Europa do Renascimento, desembocando nos atuais movimentos migratórios que hoje vemos nas cidades do velho continente.
E é por investigar, explorar e recuperar em linhas bem definidas - sem com isso deixar de pôr em evidência os matizes, as razões e as contradições - uma história tão esquecida que Olivette Otele dá um enorme contributo para pensarmos algumas das questões mais importantes da atualidade: racismo, identidade, cidadania, poder.
Um livro essencial para repensar o passado, trazer nova luz sobre o presente e projetar o futuro».
*
* *
e será um bom passo
ler o que Filipa Lowndes Vicente
escreveu sobre o livro na «ideias» do semanário Expresso
excertos
«Olivette Otele: historiadora, mulher, africana europeia
Olivette Otele é historiadora e o seu livro mais conhecido e traduzido intitula-se, “Europeus Africanos. Uma História Por Contar” e está publicado em Portugal. No dia 27 de novembro, Otele esteve em Lisboa, a convite do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), para proferir a palestra Sedas Nunes deste ano sobre “Representações e Trajetórias de Africanos Europeus”.
A autora é ela própria uma “africana europeia”. Nasceu nos Camarões, na África Central, em 1970, cresceu em Paris, e fez toda a sua formação universitária na Sorbonne. Primeiro uma licenciatura em Literatura Britânica e Norte-Americana, depois um mestrado em História e, finalmente, o doutoramento sobre História Colonial Europeia e as Políticas da Memória, centrado no papel de Bristol no tráfego transatlântico de pessoas escravizadas.Continuou depois a sua carreira académica na Grã-Bretanha onde se tornou a primeira mulher afrodescendente a obter o título de professora catedrática em História. Mas, como a própria Otele analisa no seu livro “Europeus Africanos”, a ideia de “excecionalismo” — a pessoa negra, ou a mulher excecional que foi pioneira e única numa esfera específica — é indissociável da história das discriminações. Esta etiqueta de se ser a “primeira” tem o seu lado paradoxal. Além de não normalizar aquilo que deveria ser normal — mulheres, uma “maioria”, ou “minorias” étnicas ocuparem lugares de destaque, sugere que não existem discriminações e que depois de transposta essa barreira já nada é necessário fazer. O exemplo mais óbvio é, claro, o de Barack Obama. Quem imaginaria que depois dele — um homem negro a ocupar o lugar mais importante da sua nação — aconteceria o que aconteceu? (...).
Nem aqui nem ali: os papéis da dupla ascendência e de género é o título do capítulo 4, onde a autora se concentra em estudos de caso de pessoas nascidas em África, com progenitores africanos e europeus, e especificamente no papel das mulheres negras — as mães — na formação das identidades. A partir do estudo de caso das mulheres Ga no Gana, numa região dominada pela Dinamarca, a autora também escreve sobre um colonialismo pouco conhecido, o dinamarquês. Também analisa o caso das mulheres denominadas de Signares, nas ilhas de Goreia (Gorée), em frente a Dacar, e de São Luís, a norte do Senegal. Como Otele nos lembra, a palavra Signares vinha da palavra portuguesa “senhoras”, e identificava as mulheres de dupla ascendência — africana, por parte de mãe, e europeia por parte de pai — que assumiram lugares de poder na pequena ilha atlântica de Gorée, que hoje é Património Mundial da UNESCO e lugar-memorial especialmente simbólico para a história da escravatura. Estes casos são exemplificativos das vantagens económicas e sociais da ascendência europeia entre as mulheres africanas destas regiões do Gana e do Senegal. (...)».