Do que se pode ler no Expresso desta semana sobre o Filme:
Duas irmãs brasileiras dos anos 50, descendentes de portugueses, são separadas por preconceitos e caprichos num grande fresco sentimental de Karim Aïnouz que Cannes premiou: “A Vida Invisível”
Karim Aïnouz (n. Fortaleza, 1966) é um dos cineastas brasileiros mais consistentes destas últimas duas décadas e a sua obra tem crescido passo a passo, feita de personagens frequentemente desalinhadas das normas sociais, contra a corrente, desde a estreia com “Madame Satã”. Mas ninguém previa que a sua sétima longa-metragem se atirasse desta forma para um fresco sentimental com natureza de folhetim. “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão” (título original) venceu a secção Un Certain Regard, do último Festival de Cannes. É uma adaptação saborosamente infiel do romance homónimo de Martha Batalha. Passa-se em 1951, no Rio de Janeiro, em torno de Eurídice e Guida, duas irmãs inseparáveis, de 18 e 20 anos, descendentes de imigrantes portugueses. E elas têm sonhos distintos: Eurídice, a mais reservada, sonha com o Conservatório de Viena e uma carreira de pianista; Guida, mais afoita, procura um grande amor e, sem dar cavaco à família, tomba nos braços de um marinheiro grego que a leva de barco para Atenas antes de ela descobrir que ele é só um canalha. Guida acaba por regressar meses depois, sozinha e de barriga, enfrentando o pai e o seu veredicto severo: “Fugiste pelas traseiras, desaparece pelas traseiras.” O verdadeiro núcleo do filme começa aqui, porque Eurídice, entretanto, fez bom casamento — mas o pai não vai permitir que as duas irmãs voltem a ver-se. Um retrato de submissão da condição feminina — e de toda uma geração de mulheres — começa então a ganhar corpo. Também há muitas cartas em “A Vida Invisível”. Guida concluirá por elas que “família não é sangue, é amor”. Antes que mais se avance, diga-se ainda que o melhor trabalho de Aïnouz até à data é também um triunfo de interpretações: Eurídice e Guida estão no corpo das excelentes Julia Stockler e Carol Duarte; António Fonseca e Flávia Gusmão são os pais portugueses num lote de secundários do mesmo nível; e ainda temos creditada no genérico a extraordinária Fernanda Montenegro, que tarda a aparecer no ecrã — mas quando aparece devora tudo à sua volta. (...)».
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