«O segundo romance publicado pelo escritor Orlando da Costa, Podem Chamar-me Eurídice..., viveu dez anos na clandestinidade. Apreendidos (quase) todos os exemplares aquando da sua publicação, em 1964, tinha o autor 35 anos, o livro só chegou aos olhos dos leitores após o 25 de Abril de 1974. Já o escritor poeta se encontrava na maturidade dos 45 anos, embrenhado no ofício de publicitário: «Poesia por encomenda», chamava-lhe. Até lá esteve o romance, tal como as personagens que acompanha, envolvido no subsolo das leituras sussurradas, furtivas e ocultas da vigilância do estado fascista. E essa é a maior infâmia cometida contra este romance (e contra o seu autor também, ou sobretudo contra este), tratando-se de um livro construído em filigrana, com um subtexto simbólico e mitológico enquanto suporte, em que muito raramente saímos do meio-tom, do fecundo terreno da sugestão, descritas as acções com uma elegância e delicadeza invulgares».
Do prefácio de Ana Margarida de Carvalho
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