domingo, 24 de maio de 2020

MARIA VELHO DA COSTA






Maria Velho da Costa morreu.Neste momento triste  recordemos um dos posts que fizemos no Em Cada Rosto Igualdade (no primeiro endereço) quando foi distinguida com Prémio Vida Literária APE. De lá um excerto do seu discurso:"Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza". 
E lá lembramos também:


«Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano limpo. Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez. Elas esfregam o chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com os insectos a que não venham adoecer os seus enquanto dormem. Elas brigam nos mercados e praças por mais barato. Elas contam centavos. Elas costuram e enfiam malhas em agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da comida que elas fazem. Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de gravetos na cabeça.(…)». Ouçamos:




Com a morte de Maria Velho da Costa, mais tristeza nestes dias tristes. Felizmente temos os seus livros para cuidarmos o seu futuro.




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