quarta-feira, 3 de abril de 2024

É SOBRE KIM GORDON | «A ironia, a raiva, o feminismo, a ansiedade do século XXI são temas-chave de um álbum que soa tão mas tão de acordo com o ar do tempo que nos esquecemos que esta mulher tem 70 anos»



E o que escreveu João Pedro Barros

Editor Online do Expresso

numa Newsletter:


«O QUE EU ANDO A OUVIR

“The Collective”, de Kim Gordon, é rock, é hip-hop, é trap, tem como base um pesado ambiente industrial. Pode não agradar a nenhum dos fãs destes géneros, pode soar como uma manta de retalhos bizarra a um ouvinte que esteja à espera de algo reminiscente dos Sonic Youth (só me aguentei 48 palavras até mencionar a ex-banda), mas também corre o sério risco de expandir os universos sonoros de todas estas tribos.
Confesso que de início fui atropelado por este rolo compressor em forma de álbum, mas assim que passou a estranheza inicial fui absorvendo as várias subtilezas e estou rendido. Gordon utiliza as guitarras para dar textura a batidas do produtor Justin Raisen – o método de trabalho é mais ou menos explicado nesta entrevista à Blitz –, usa e abusa da distorção, do feedback e até do auto-tune, mas no meio desta amálgama consegue dar às canções um cariz pop q.b. Dei mesmo por mim a repetir em voz baixa as frases que Kim Gordon vai murmurando.
“BYE BYE”, por exemplo, é mesmo um grande single (e vejam como soa inesperadamente bem ao vivo), cuja letra se baseia numa lista de itens para levar numa mala de viagem. A ironia, a raiva, o feminismo, a ansiedade do século XXI são temas-chave de um álbum que soa tão mas tão de acordo com o ar do tempo que nos esquecemos que esta mulher tem 70 anos. No TikTok, tornou-se viral este post em que uma jovem música diz que Gordon “curou” o receio que tinha de envelhecer. O “New York Times” diz que este disco é a coisa mais “cool” (“fixe” parece-me pouco como tradução) que Kim Gordon já fez. Amem ou odeiem, mas ouçam».


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