segunda-feira, 29 de abril de 2024

TERESA PAULA BRITO | «"Existem pedras" do disco EP "Minha Senhora de Mim"»





A propósito, do semanário Expresso de 3 de abril 2024:

«Teresa Paula Brito apresenta a volúpia do sexo ao Estado Novo: um capítulo de “A Revolução Antes da Revolução”, de Luís Freitas Branco

Estamos a 18 de maio de 1971, um dia formador da canção portuguesa, com uma récita de Ana Maria Teodósio, apresentação do poeta David Mourão-Ferreira e cobertura em peso dos jornais, rádio e televisão. Perante um auditório em silêncio, sob andamento rock, Teresa Paula Brito, incensada pela crítica mais progressista de então, canta versos de Maria Teresa Horta: “Colheste as flores/ da tua chama/ apagaste devagar/ os teus sentidos/ Sossegaste o corpo/ em sua cama/ desguarneceste em mim/ os teus motivos.” Um acontecimento (esquecido) em plena ditadura patriarcal, a que Luís Freitas Branco lança luz em “A Revolução Antes da Revolução”, livro do qual a BLITZ publica o quinto capítulo, o mesmo onde se escreve sobre a censura de que José Cid e o Quarteto 1111 foram alvo.

“Sossegaste o corpo/ em sua cama/ desguarneceste em mim/ os teus motivos.”

Os motivos do poema eram claros, a volúpia do sexo que arde desgovernada pelo corpo feminino, que em plena ditadura patriarcal é um «profundo segredo» de «secreto recanto». As canções são urgentes e transgressoras, como o rock mais instigante que sobrevive ao teste do tempo, e os elementos estão todos alinhados: o cunhado de Maria Teresa Horta, Nuno Filipe, dá um andamento de rock progressivo, remete para a carnalidade do poema e para aquele instante particular do rock anglo-saxónico; a vocalista Teresa Paula Brito, exaltada pela critica como a derradeira voz feminina desta geração, vencedora dos Prémios Imprensa, controla a tensão e cicia ameaçadora; e nos bastidores estão os elementos da banda revolucionária de José Cid, Quarteto 1111, que combatiam na linha da frente pelo entrosamento da canção moderna com a tradição portuguesa.

“Que a vela acesa corte a madrugada/ e lhe desdiga a calma e a palavra/ Colheste devagar o meu queixume/ Ó meu amor!/ Ó meu aceso lume!”(...)».


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SINOPSE
As senhas da Revolução, é sabido, foram duas canções que fazem hoje parte do cancioneiro da Música Popular Portuguesa.
O papel da música na queda da ditadura não começou apenas, no entanto, na madrugada de 25 de Abril de 1974.
A editora Livros Zigurate, a coincidir com as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, publica que lança uma nova luz sobre a revolução e os caminhos musicais que a ela conduziram.
O ponto de partida é o ano de 1971, o ano da publicação de discos emblemáticos de José Mário Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira ou Carlos Paredes. E de José Afonso. O ano que deu à música portuguesa e à revolução a canção-senha «Grândola, Vila Morena».
Neste trabalho de investigação é feito um levantamento rigoroso, exaustivo e em grande parte surpreendente que documenta o modo como a música popular portuguesa abriu as portas para o clima cultural, social e político que desencadeou o dia «inicial inteiro e limpo» e que mudou Portugal há 50 anos.
Para este livro foram entrevistadas dezenas de figuras e foi analisada uma extensa bibliografia, tendo sido consultados mais de 700 jornais e cerca de duas centenas e meia de revistas.
As histórias recolhidas e a análise desta vasta documentação - tratadas simultaneamente com o rigor de um estudo aprofundado e com a desenvoltura da linguagem jornalística - lançam pistas novas e um olhar inédito sobre o momento em que a música popular portuguesa iniciou uma revolução antes revolução.     

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