domingo, 4 de agosto de 2024

NO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS | «Álbuns de Família. Fotografias da diáspora africana na Grande Lisboa (1975-hoje)» | ATÉ 30 NOVEMBRO 2024

 



«O lugar, as pessoas, a exposição


Fazer esta exposição num lugar como o Padrão dos Descobrimentos torna-se ainda mais simbólico. Este monumento foi construído no auge do Estado Novo (1933-1974), a ditadura liderada por Salazar, para celebrar o Império do passado e com isso consolidar o Império de 1940. Hoje é um monumento histórico, um vestígio do passado colonial português, como tantos outros na cidade de Lisboa. Mas o Padrão é também – através das suas exposições e programação – um espaço de reflexão e crítica histórica. Com a exposição Álbuns de Família, é ainda um lugar para falar de um Portugal contemporâneo onde todos possam ter acesso a uma cidadania plena, feita de justiça social e racial.

Toda a exposição resulta de um processo colaborativo. Grande parte do que está exposto foi feito com a participação das pessoas que generosamente retiraram as fotografias das suas casas, dos seus álbuns, das suas gavetas, dos seus telemóveis para as partilharem connosco. A todas elas, um duplo agradecimento: pelo empréstimo temporário desses fragmentos materiais e visuais das suas vidas, e por compartilharem histórias e memórias narradas a partir das suas fotografias. 

A exposição cruza duas histórias – a da diáspora africana lisboeta com a da fotografia como autobiografia visual. Ao fazê-lo, procura demonstrar como a história é feita por todos nós e como todos fazemos parte da história. As histórias pessoais cruzam-se com a história coletiva, com a história política, com as histórias nacionais 
e internacionais. A exposição é também uma contranarrativa aos milhares de fotografias de pessoas negras em contexto colonial que existem em arquivos públicos e privados portugueses, imagens que nunca pertenceram aos próprios fotografados. A essa representação imposta – onde as pessoas surgem quase sempre em situações de desigualdade e raramente na sua individualidade, com nome e ape - lido – contrapomos, aqui, histórias de autorrepresentação contadas em discurso direto. Foi uma escolha limitada pelo espaço de exibição que não pretende caracterizar a riqueza e diversidade da vasta comunidade de origem africana que vive em Lisboa. Poderá esta exposição temporária ser o ponto de partida para a criação de um arquivo permanente, que acolha os legados históricos documentais da comunidade de origem africana em Portugal?». Filipa Lowndes Vicente | Inocência Mata,

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