«O lugar, as pessoas,
a exposição
Fazer esta exposição num lugar como o Padrão dos Descobrimentos
torna-se ainda mais simbólico. Este monumento foi construído no
auge do Estado Novo (1933-1974), a ditadura liderada por Salazar,
para celebrar o Império do passado e com isso consolidar o Império
de 1940. Hoje é um monumento histórico, um vestígio do passado
colonial português, como tantos outros na cidade de Lisboa. Mas o
Padrão é também – através das suas exposições e programação –
um espaço de reflexão e crítica histórica. Com a exposição Álbuns
de Família, é ainda um lugar para falar de um Portugal contemporâneo
onde todos possam ter acesso a uma cidadania plena, feita de justiça
social e racial.
Toda a exposição resulta de um processo colaborativo. Grande parte
do que está exposto foi feito com a participação das pessoas que generosamente retiraram as fotografias das suas casas, dos seus álbuns,
das suas gavetas, dos seus telemóveis para as partilharem connosco.
A todas elas, um duplo agradecimento: pelo empréstimo temporário
desses fragmentos materiais e visuais das suas vidas, e por compartilharem histórias e memórias narradas a partir das suas fotografias.
A exposição cruza duas histórias – a da diáspora africana lisboeta
com a da fotografia como autobiografia visual. Ao fazê-lo, procura
demonstrar como a história é feita por todos nós e como todos
fazemos parte da história. As histórias pessoais cruzam-se com a
história coletiva, com a história política, com as histórias nacionais
e internacionais. A exposição é também uma contranarrativa aos
milhares de fotografias de pessoas negras em contexto colonial que
existem em arquivos públicos e privados portugueses, imagens que
nunca pertenceram aos próprios fotografados. A essa representação
imposta – onde as pessoas surgem quase sempre em situações de
desigualdade e raramente na sua individualidade, com nome e ape
-
lido – contrapomos, aqui, histórias de autorrepresentação contadas
em discurso direto. Foi uma escolha limitada pelo espaço de exibição
que não pretende caracterizar a riqueza e diversidade da vasta comunidade de origem africana que vive em Lisboa. Poderá esta exposição
temporária ser o ponto de partida para a criação de um arquivo
permanente, que acolha os legados históricos documentais da
comunidade de origem africana em Portugal?». Filipa Lowndes Vicente | Inocência Mata,
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