«Estou cansado deste caminho solitário e não quero
morrer.
— Wayqeycuna, de Tiziano
Cruz
Tenho 91 anos e quero fazer amor
todos os dias.
— A vida secreta dos velhos,
de Mohamed El Khatib
O programa do Alkantara Festival 2024 traz-nos danças e histórias entre a vida
e a morte, a morte e a vida. Em algumas propostas, as vidas carregam o peso da
violência, do luto, da injustiça. Noutras, há vida e amor até à última
respiração.
Estas são realidades que andam lado a lado, muitas vezes de mãos dadas. Nelas
encontramos desilusão. Mas também esperança, a possibilidade de versões mais
otimistas do futuro. Versões daquilo que o futuro devia ser para mais pessoas,
para todas as pessoas. Esse é o nosso sonho radical.
Um futuro em que envelhecemos, sem que ninguém fique pelo caminho.
Um futuro em que aprendemos sobre o tempo. Em que vivemos plenamente nos nossos
corpos e no mundo, para além daquilo que esperaram de nós, para além do que
esperámos de nós próprios, de nós próprias.
Um futuro em que temos mães e irmãs e filhas. Em que temos amizades que
atravessam oceanos e alianças que mantêm o fogo aceso. Temos casas que são
nossas, com paredes e memórias intactas. Temos as nossas línguas, todas as
línguas. Gal Costa canta.
Um futuro em que aprendemos coisas, que esquecemos ou que ainda não tínhamos
aprendido, sobre as árvores e a água. Em que prestamos homenagem à natureza e a
quem já não está aqui. Em que há lugar para rituais, ancestrais ou novos.
Um futuro em que ainda sonhamos, ainda escrevemos, ainda dançamos. Ainda nos
encontramos. Ainda contamos histórias.
Um futuro em que tu não morreste. Não morreste e não caminhas sozinho.
Carla
Nobre Sousa & David Cabecinha
(direção artística)
08.10.2024
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O que se segue é a confusão entre realidade e fantasia. Carolina Bianchi prepara e toma uma mistura de boa noite cinderela — ou droga da violação, que deixa as suas vítimas inanimadas e completamente indefesas. O seu corpo fica entregue a oito performers do coletivo Cara de Cavalo, com quem cria o espetáculo. Aqui assistimos à realidade depois do trauma, um lugar onde passado e presente colapsam. Uma jornada para um abismo. Um pesadelo.
Contém descrições detalhadas de violência contra mulheres, feminicídio, drogas, violação, lesões autoprovocadas».
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