domingo, 24 de novembro de 2024

TEOLINDA GERSÃO | «Autobiografia não escrita de Martha Freud »

 



SINOPSE


«Este é um romance sobre personagens históricas, mas não um "romance histórico", na medida em que pretende seguir/reconstituir/aproximar-se o mais possível da realidade, obrigando-se a usar sobretudo a interpretação (que as torna visíveis), reduzindo ao mínimo a fantasia (que iria "atraiçoá-las"). Apesar da subjectividade inevitável de tudo o que é escrito, procura ser "objectivo", porque alicerçado em documentos.
Uma vez que Freud sempre teve voz e Martha foi até 2011 silenciada e reduzida ao estereótipo de esposa, mãe e dona de casa, descobrir a sua personalidade "real" não me interessou menos do que a do homem célebre, complexo e multifacetado da sua vida. Aliás, neste caso a celebridade não importa, a matéria do livro é o diálogo de duas pessoas em igual medida importantes, que mutuamente se procuram, encontram e desencontram.
É possível que para o leitor (como no início para mim) as figuras de ambos se revelem muito diferentes do que esperaria. O que não considero uma perda, mas uma revelação surpreendente.»
Teolinda Gersão

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Sobre o livro no Semanário Expresso - Ideias - desta semana pelo Psiquiatra José Gameiro: 
«(..) Mas foi Martha a principal crítica de Freud. Para além de uma relação conjugal muito insatisfatória, parece que Sigmund não era muito dado ao físico e Martha, ao contrário do que se possa pensar de uma mulher em finais do século XIX, não se coi­bia de lhe dizer que precisava dele na cama. “No namoro deixo-lhe sugestões eróticas que não lhe interessam nem parece entendê-las.” Ele foge e teoriza, “a saúde, a frescura e a força da amada importa-me mais do que a felicidade de afagar o seu corpo frágil”. A relação foi-se degradando e o afastamento foi acontecendo. Tivesse ele vivido agora e seria despachado em grande velocidade, desculpem-me a imagem, mas era o que se chama nem coiso, nem sai de cima.

Sem querer ser especulativo, talvez esteja nestas atitudes a forma como maltratou, no sentido epistemológico, as mulheres. E muito escreveu sobre elas. Até publicou um artigo sobre uma Bertha, que nunca viu, mas que considerou um caso de sucesso.

Martha, nas suas cartas, refere que o marido lhe dizia que os doentes pouco lhe interessavam, apenas serviam de “instrumentos” para construir uma teoria. As análises eram por vezes intermináveis, porque era preciso ganhar a vida.

Até um dia em que Martha disse basta. Já então Freud se “entretinha” com a sua cunhada Minna, que vivia com eles e com quem viajava regularmente. Para a pequena história fica uma estada de duas semanas no Hotel Eden, ainda hoje um dos melhores de Roma. Para quem vivia apertado financeiramente existiam exceções. (...)».


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