Densificando, por exemplo,
o trabalho na plataforma sapo:
«Profissionais da Cultura querem canais de denúncia para problema "estrutural" do assédio
Em resposta a uma “Carta aberta para debate no setor do cinema”, cerca de 300 profissionais, sobretudo da área do Cinema, defendem a criação de canais de denúncia neutros para vítimas de assédio e outras formas de violência de género. (...). Leia aqui.
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E a «carta» no jornal Público:
é de lá esta passagem:
«(...)
Em vez de ponderação, cuidado e protecção, o festival em questão emitiu um comunicado equívoco, levando o caso à comunicação social e permitindo um linchamento público. Tal atitude alertou-nos para as seguintes considerações:
1. Um filme é o resultado de um trabalho colectivo, do investimento e esforço de várias pessoas. Assim sendo, qual a legitimidade de um festival de cinema para retirar da sua programação o trabalho de todas essas pessoas, lançando sobre ele opróbrio e suspeitas que em nada lhes dizem respeito?
2. O problema cultural do assédio, da violência doméstica, laboral, de género, bem como de outras formas de violência sistematizadas e com base em assimetrias de poder, precisa de ser afrontado com o compromisso de todo o sector. Precisa também de rigor, precisão nas ferramentas usadas, nas decisões tomadas, e nas formas de comunicação das mesmas. Caso contrário, gera-se apenas uma cortina de fumo que descredibiliza as vítimas, protege agressores e potencialmente vitimiza pessoas inocentes.
3. Os festivais de cinema não possuem estas ferramentas. Não faz parte da sua missão, das suas competências, da formação dos seus trabalhadores e dirigentes. Enquanto sociedade, não lhes demos tal poder e tal responsabilidade, nem por eles foi solicitada.
4. A arte e a cultura não podem existir fora das regras da democracia e da ética. Estas não são entidades esfíngicas e estáticas. Elas podem ser transformadas e até podem ser destruídas. Depende de um trabalho colectivo. A condenação ao opróbrio e ostracismo são mecanismos que não podem ter lugar numa democracia. As organizações culturais exercem poder sobre artistas e as suas obras. Portanto, têm de o usar dentro das regras democráticas.
5. Por outro lado, se as leis e os mecanismos judiciais e jurídicos existentes são insuficientes, há que fazer, em primeira medida, esse investimento. Existem já associações e outras organizações que trabalham nesse sentido, mas com poucos meios e sem capacidade de apoio legal efectivo. Enquanto cidadãos, todos nós podemos participar em tal luta. Enquanto comunidade profissional, cada um de nós pode contribuir, com conhecimento específico dos mecanismos de poder próprios do nosso trabalho e que podem gerar e ocultar situações abusivas.
Esta é uma reflexão que não queremos fechar. Apelamos por isso ao debate e compromisso, por parte dos festivais de cinema e restantes organizações de exibição e distribuição, sobre estas situações e os limites da legitimidade para sentenciar realizadores e filmes. Apelamos a uma análise transparente e com real impacto em medidas, por parte de todos nós, profissionais do cinema, acerca dos mecanismos de prevenção de assédio e abuso de qualquer tipo em locais de trabalho. Apelamos ainda à implicação do Instituto de Cinema e Audiovisual, bem como da tutela, na criação de canais de denúncia neutros, com ferramentas próprias de protecção das vítimas e que salvaguardem a presunção de inocência dos acusados».
1. Um filme é o resultado de um trabalho colectivo, do investimento e esforço de várias pessoas. Assim sendo, qual a legitimidade de um festival de cinema para retirar da sua programação o trabalho de todas essas pessoas, lançando sobre ele opróbrio e suspeitas que em nada lhes dizem respeito?
2. O problema cultural do assédio, da violência doméstica, laboral, de género, bem como de outras formas de violência sistematizadas e com base em assimetrias de poder, precisa de ser afrontado com o compromisso de todo o sector. Precisa também de rigor, precisão nas ferramentas usadas, nas decisões tomadas, e nas formas de comunicação das mesmas. Caso contrário, gera-se apenas uma cortina de fumo que descredibiliza as vítimas, protege agressores e potencialmente vitimiza pessoas inocentes.
3. Os festivais de cinema não possuem estas ferramentas. Não faz parte da sua missão, das suas competências, da formação dos seus trabalhadores e dirigentes. Enquanto sociedade, não lhes demos tal poder e tal responsabilidade, nem por eles foi solicitada.
4. A arte e a cultura não podem existir fora das regras da democracia e da ética. Estas não são entidades esfíngicas e estáticas. Elas podem ser transformadas e até podem ser destruídas. Depende de um trabalho colectivo. A condenação ao opróbrio e ostracismo são mecanismos que não podem ter lugar numa democracia. As organizações culturais exercem poder sobre artistas e as suas obras. Portanto, têm de o usar dentro das regras democráticas.
5. Por outro lado, se as leis e os mecanismos judiciais e jurídicos existentes são insuficientes, há que fazer, em primeira medida, esse investimento. Existem já associações e outras organizações que trabalham nesse sentido, mas com poucos meios e sem capacidade de apoio legal efectivo. Enquanto cidadãos, todos nós podemos participar em tal luta. Enquanto comunidade profissional, cada um de nós pode contribuir, com conhecimento específico dos mecanismos de poder próprios do nosso trabalho e que podem gerar e ocultar situações abusivas.
Esta é uma reflexão que não queremos fechar. Apelamos por isso ao debate e compromisso, por parte dos festivais de cinema e restantes organizações de exibição e distribuição, sobre estas situações e os limites da legitimidade para sentenciar realizadores e filmes. Apelamos a uma análise transparente e com real impacto em medidas, por parte de todos nós, profissionais do cinema, acerca dos mecanismos de prevenção de assédio e abuso de qualquer tipo em locais de trabalho. Apelamos ainda à implicação do Instituto de Cinema e Audiovisual, bem como da tutela, na criação de canais de denúncia neutros, com ferramentas próprias de protecção das vítimas e que salvaguardem a presunção de inocência dos acusados».
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A seguir, obviamente.



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