«(…)
E será de unidade em unidade, de memória em memória, de objeto em objeto, que À Beira do Mar de Junho
irá recompor a sua paisagem singular de afetos, partindo do lastro de
ausência deixado pelas coisas e pela passagem inexorável do tempo. Daí
que os demonstrativos desempenhem na poesia uma função, talvez,
timidamente desesperada: o real foge-nos, emudece-nos, ainda que diante a
possibilidade de recombinações e acrobacias verbais para entulhar o
horror ao vazio e ao silêncio – mas escrevendo-se “este rosto” sonha-se
com uma proximidade, um efeito de evidência. A palavra fixa
ilusoriamente o que está por natureza em insolvente travessia,
garantindo-nos uma sobrevivência, uma pequena vida excedente à tirania
da morte: “Olhar limpo tudo / o que não vai morrer / connosco”. (...)».
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