sexta-feira, 5 de junho de 2020

MIA COUTO | «(...)Contaram-me que um grupo de curandeiros se apresentou no Ministério da Saúde para dizer: os nossos antepassados não conhecem esta doença, não nos podem guiar, por isso estamos aqui para que nos digam como ajudar. Esta posição de humildade e empatia é algo que me comoveu. (...)»



Jornal Expresso | 30 MAIO 2020

Outro excerto:
«(…)
As autoridades de saúde moçambicanas têm apostado na prevenção. Quais as medidas mais importantes?
Será preciso tempo para medir a eficiência de um conjunto de medidas tão diversas. As de mais difícil aplicação têm que ver com uma cultura profundamente corporal e gregária. Por vezes, tivemos de ir mais longe do que o chamado “bom senso”. Por exemplo, desaconselhamos a praia, mesmo não estando em regime de confinamento. Houve quem nos criticasse porque a praia é um lugar vasto, onde há espaço para manter a distância e se pode apanhar sol num espaço aberto. Mas essa é a privacidade que uma minoria busca na praia. A grande maioria vai para “ficar junto”. Essa tendência é um valor, uma celebração instituída. As pessoas em Moçambique despedem-se com um “estamos juntos”. E não limitam a saudação de um encontro a um simples aperto de mão. Enquanto dura a conversa ficam de mãos dadas. O corpo todo fala, os abraços pedem mais do que os braços. (...)».


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