INSTALAÇÃO DE HOMENAGEM: LIA GAMA
O que tem de ser tem muita força, convicção da actriz que nunca quis ser outra coisa. A menina das Beirasescondia um fruto proibido: sonhava com o teatro. E os actoresde papel que recortava dormiam ocultos no tecto dos armários, onde o velho Aladino, perspicaz, iluminava o caminho. Com a suavidade aparente de um sorriso constante, transforma um desejo antigo em futuro. Uma tal determinação que, por ser telúrica, se tornou indomável. Depois vieram os dias todos. A vida numa corrida, o tempo a derreter o brilho dos aplausos. Entre os lugares do princípio e os camarins dos sonhos floresce uma casa de espelhos. Um labirinto mental que a actriz aprende a atravessar. Um vai-e-vem constante entre dois mundos, seguindo uma gramática específica. A mulher vibrante, sentimental, actriz apaixonada, avança no árduo exercício da sobrevivência e clama sobre a injustiça. A injustiça do seu país que tanto ignora os artistas. Continuará a sorrir, agora mais comedidamente. Continuará a interessar-se pelo mistério do espelho. O sonho de uma mulher que vendeu margaridas à entrada do teatro.
Texto de JOSÉ MANUEL CASTANHEIRA
Com uma carreira dividida entre o palco, o cinema e a televisão, LIA GAMA (Fundão, 1944) estreou-se no teatro em 1963, na peça Vamos contar mentiras, partilhando a cena com Raul Solnado e Florbela Queiroz. Dois anos depois estudou na Escola René Simon, em Paris, e em 1966 regressou a Portugal, iniciando um percurso durante o qual se cruzou com alguns dos mais destacados encenadores portugueses: Carlos Avilez, Luzia Maria Martins, Fernando Gusmão, Carlos Fernando, Luis Miguel Cintra, Jorge Silva Melo, Jorge Listopad, João Mota, Ricardo Pais, Filipe La Féria, Juvenal Garcês e Fernanda Lapa. Na profícua relação que manteve com os Artistas Unidos, ao longo de três décadas, representou autores como Joe Orton, Jorge Silva Melo, Bertolt Brecht, Luigi Pirandello, Sófocles, Harold Pinter, José Maria Vieira Mendes, entre outros. Ao longo de mais de seis décadas de actividade como actriz, foram-lhe atribuídas as seguintes distinções: Prémio Casa da Imprensa, pela sua interpretação no filme Kilas, o mau da fita; Medalha 25 de Abril, da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro; Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Ministério da Cultura; Prémio Sophia – Carreira (2019); e Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique, pela Presidência da República.
*
Lia Gama surpreendida e "muito honrada" por homenagem do Festival de Almada - leia aqui



Sem comentários:
Enviar um comentário