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Um excerto: «(...)Se Grada Kilomba é a única artista afro-descendente aqui, a única proletária é Rosa Ramalho (1888-1977): pelo menos até recentemente, todas estas artistas vinham da aristocracia (como Clara Menéres), da grande burguesia (como Vieira da Silva ou Menez) ou de famílias de artistas (como Helena Almeida). Mas Rosa Ramalho é uma camponesa, casada com um moleiro, e que, desde o seu casamento até a sua viuvez, deixou de produzir, confinada ao seu papel de esposa e mãe. Vendia as suas pequenas cerâmicas nos mercados e as suas produções destacavam-se tanto do artesanato tradicional que um pintor a notou em 1956 e a fez conhecer. Ao invés da beleza usual dessas estatuetas folclóricas, as suas personagens têm uma violência, uma sexualidade, um carácter grotesco ou sádico, algo entre surrealismo e arte bruta. Se a carreira artística de Rosa Ramalho foi de facto inibida pelo seu casamento, se fizermos um grande caso da asfixia do trabalho artístico de Sarah Affonso devido ao seu casamento com Almada Negreiros, devemos contrabalançar este discurso de sacrifício incluindo as artistas cujos cônjuges, também artistas, aceitaram e apoiaram a carreira (Ana Vieira e Lourdes Castro, entre outras) e notar de passagem que Árpád Szenes ou Victor Willings são bem menos conhecidos e cotados que as suas esposas, e que o arquitecto e escultor Artur Rosa abandonou quase a sua carreira para se tornar o colaborador da sua esposa (a Gulbenkian mostra em "reparação" uma escultura mural dele). "Atrás de toda a grande mulher artista encontra-se um homem", escrevi a propósito de uma exposição sobre este tema de Ana Vidigal. (...)».
Museu de Olaria / Município de Barcelos.
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