quarta-feira, 4 de agosto de 2021

NO JORNAL ONLINE «ABRIL/ABRIL» | sobre a exposição «Tudo o que eu quero»

 


Excerto:«(...)Tudo o que eu quero constituía-se, aqui, como uma oportunidade para ser uma exposição sobre a emancipação da mulher e o papel transformador da arte na luta das mulheres dentro de uma relação histórica de poder. Mas a opção, que não se esconde, é outra: «uma reflexão sobre um contexto de criação que durante séculos foi quase exclusivamente masculino.» Claro: tudo o que eu quero. E, apesar disso, o início da exposição ainda nos dá algumas expectativas, quando Aurélia de Sousa dialoga (lá está) com Rosa Ramalho e Rosa Carvalho – três vidas tão diferentes que se cruzam – ou quando Vieira da Silva nos surge num pequeníssimo e intenso formato a iluminar toda a sala, cumprindo, quase sozinha, a missão da exposição. Aqueles dois primeiros núcleos seriam suficientes para demonstrar o papel da arte na agitação do poder dominante. 

Acontece que, logo a seguir, ao entrar numa sala repleta de pinturas da absolutamente genial e única Maria Helena Vieira da Silva – a melhor artista do séc. XX – deparamo-nos repentinamente com mais um diálogo, desta vez com Sarah Affonso. E pergunta o leitor: mas que mal tem isso? Nenhum, não fora Sarah Affonso, dirigente da Mocidade Portuguesa, portadora de uma conceção sobre o papel da mulher, e as circunstâncias que determinaram o papel a que a mulher do seu tempo foi forçada a desempenhar, bastante diferente das demais. Até poderíamos aventar que essa foi a ideia dos curadores, mas creio que não. Nem os textos de parede, nem o catálogo indicam vestígios de qualquer intenção de confronto. A opção é sempre pelo diálogo, nunca pelo confronto. E assim encontramos, neste núcleo, uma artista brilhante e uma pintora razoável. Com uma, descobrimo-nos numa teia de inquietações e com a outra apreciamos a estética modernista. O horizonte destas artistas é objetivamente diferente e, portanto, tudo o que querem não é bem a mesma coisa, não coincide, nem nas circunstâncias, nem nas perspetivas. Que diálogo é, então, aquele? Descubra você mesmo. (...)». Leia na integra.



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