«As muitas mulheres negras presentes no romance Água de barrela, de Eliana Alves Cruz encontram no lavar, passar, enxaguar e quarar das roupas das patroas e sinhás brancas um modo de sobrevivência em quase trezentos anos de história, desde o Brasil na época da colônia até o início do século XX. O título do romance remete a esse procedimento utilizado por essas mulheres negras de diferentes gerações e que garantiu o sustento e a existência de seus filhos e netos em situações de exploração, miséria e escravidão. A narrativa inicia-se com a comemoração do aniversário de umas das personagens após viver um século de muitas lutas, perdas, alegrias, tristezas e principalmente resiliência. Damiana, personagem central para a narrativa, cansada das batalhas constante e ininterruptamente travadas pela liberdade, se vê rodeada por sua família e se recorda dos tempos de lavadeira». +.
«Um corpo amanhece em um beco, envolto em uma manta e com pequenas partes cortadas. O crime do cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, é um romance histórico-policial que começa em Moçambique e vem parar no Rio de Janeiro, mais exatamente no Cais do Valongo. O local foi porta de entrada de 500 mil a um milhão de escravizados de 1811 a 1831 e foi alçado a patrimônio da humanidade pela UNESCO em 2017. A história acontece no início do século 19 e é contada por dois narradores ― Muana e Nuno ― que conviveram com a vítima: o comerciante Bernardo Vianna». +.
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Palavras da autora no semanário Expresso desta semana
«Disse que no Brasil uma pessoa não nasce negra, torna-se negra. Porquê? Essa frase não é minha, é nossa. Este tornar-se negro acontece à medida que vamos lidando com a subcidadania. Um menino negro de pele clara não se vê como negro até ser confrontado com a polícia. Às vezes leva-se uma vida inteira para que uma pessoa perceba que grande parte das dificuldades pelas quais passou se devem ao racismo. Há muitas pessoas cooptadas por um negacionismo subtil».
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