sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

«O Ladrão de Cadernos»

 




Sinopse

«Ainda não sabíamos para que coisa nos dirigíamos, não sabíamos do que estávamos a fugir, tínhamos apenas a certeza dos nossos corpos jovens… A minha vida começou com aquele salto.»

Em Tora e Piccilli foi tudo sempre igual, o mundo começa e acaba ali. Davide é guardador de porcos, entende melhor os animais do que os homens, mas rouba cadernos no mercado da aldeia. Teresa, pelo contrário, anda na escola, tem o desejo de fugir e a audácia de quem sabe o que quer. Mas um dia chegam de Nápoles trinta e seis judeus, enviados pelo regime fascista para ali ficarem confinados. O Duce disse que deviam ser postos à parte, mas Davide vai à procura deles. Especialmente de Nicolas, que observa a lua através do telescópio e a nomeia «profundo peito do oceano». É a guerra que os faz encontrarem-se, depois separa-os. Até que os seus destinos são trocados.
Tora e Piccilli (a norte de Caserta), setembro de 1942. Davide passa os dias, por vezes até a noite, com os porcos que guarda: conhece-os tão bem que os chama pelo nome. Nasceu coxo e, por isso, é gozado pelos outros rapazes e maltratado pelo pai. Só Teresa, que passa as tardes a trabalhar na cordoaria da família e aproveita todo o tempo livre para ler, tem a coragem de o defender. Davide não consegue imaginar outra vida que não seja a de Tora. Teresa, pelo contrário, repete constantemente que um dia irá para longe, e Davide sabe que ela está a falar a sério. A chegada de trinta e seis judeus de Nápoles, enviados para a aldeia pelas autoridades fascistas, vai mudar as suas vidas para sempre. Nicolas, um rapaz judeu de uma beleza irrequieta, traz consigo um mundo desconhecido e perturba os seus dias. Davide começa a frequentar secretamente as aulas do pai de Nicolas, que criou uma escola clandestina.
E, assim, o filho analfabeto de um fascista aprende a ler e a escrever graças a um judeu. Juntos, Davide, Teresa e Nicolas exploram a paisagem em redor da aldeia, até às Ciampate del Diavolo (onde, segundo a crença popular, as pegadas do diabo estão impressas na encosta do vulcão extinto), mas também o mundo não expresso dos seus sentimentos. O fantasma de Nicolas acompanhará Davide nos anos seguintes, em Nápoles, depois da guerra. Quando trabalhar arduamente numa fábrica, quando começar acidentalmente a frequentar uma companhia de teatro, quando - já um homem, outro homem - pisar o palco como um ator aclamado.
Será o próprio Nicolas, vivo e, no entanto, tão parecido com um fantasma, que o levará de volta a Tora, onde tudo começou.". Saiba mais.




quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

CANAL PARA DENÚNCIAS DE CASOS DE ASSÉDIO SEXUAL E MORAL NO SETOR CULTURA |«Tem de haver uma resposta específica para estes trabalhadores, aos quais são transversais a precariedade, os recibos verdes ou o trabalho intermitente»

 


Excerto:«A associação Mutim — Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento e a Plateia — Associação de Profissionais das Artes Cénicas vão exigir ao Ministério da Cultura a criação de um canal de denúncias de casos de assédio sexual e moral para o sector. “Tem de haver uma resposta específica para estes trabalhadores, aos quais são transversais a precariedade, os recibos verdes ou o trabalho intermitente”, disse esta terça-feira ao PÚBLICO a presidente da Mutim, Paula Miranda.
As associações pretendem ver criado um canal de denúncias independente, “idóneo”, mas financeiramente suportado pelo Estado, que possa receber queixas de trabalhadores de todas as áreas da cultura e “que ofereça apoio e jurídico”, explica Paula Miranda. Os traços desta proposta terão de ser acordados com todas as associações que se queiram juntar e o objectivo é entregar a reivindicação à tutela ainda este ano.
As características laborais do sector estão entre aquelas que estudos e indicadores mostram ser as que mais vulnerabilizam os trabalhadores perante práticas de assédio de vários tipos e/ou violência sexual: ausência generalizada de vínculos contratuais sem termo, em paralelo com estruturas altamente hierarquizadas. A estes factores acrescem a escala do país e, consequentemente, do mercado, que dificultam a existência de espaços seguros de queixa ou denúncia em contextos como produtoras do ramo audiovisual, escolas artísticas ou companhias de artes do palco, por exemplo. (...)».

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A propósito, aconteceu:


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

PARA QUEM QUER REFLETIR «O FEMINISMO» SOB VÁRIOS ÂNGULOS | talvez lhe interesse «Feminismo-L’Oréal em tempos de guerra»| DE MILENE VALE NO BLOGUE «MANIFESTO 74»

 





NO TEATRO DO BAIRRO |«Construção _ Sobre Três Dramas Históricos de Gertrude Stein»| LISBOA



 
«“Três Dramas Históricos” é uma trilogia escrita por Gertrude Stein em 1930 e publicada no livro Last Operas and Plays. A escritora do “presente continuo” apresenta-nos um passado renovando-o através de um jogo onde as tradições antigas servem para inventar novas formas dramáticas. O estilo da dramaturga é emblemático na busca por reviver um passado perdido no “agora” da ação, onde emergem vozes ausentes/presentes. Esta encarnação paradoxal de “vozes puras” nas “peças de memória” de Gertrude Stein abre caminho para uma reflexão sobre o significado de “ser” no presente». Saiba mais.




segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

«Auschwitz - Um Dia de Cada Vez»

 


SINOPSE

«Um companheiro de Auschwitz pergunta a Primo Levi por que motivo já não se preocupa com a higiene. Ele responde simplesmente: "Para quê, se daqui a meia hora estarei de novo a trabalhar com sacos de carvão?" É desse companheiro que recebe a primeira e talvez principal lição de sobrevivência: "Lavarmo-nos é reagir, é não deixar que nos reduzam a animais; é lutar para viver, para poder contar, para testemunhar; é manter a última faculdade do ser humano: a faculdade de negar o nosso consentimento".»
A capacidade de sobrevivência do ser humano é notável e, por mais terrível que fosse a existência em Auschwitz, todos os dias se lutava para sobreviver apesar de a morte estar ao virar de cada esquina. O campo de concentração de Auschwitz é sinónimo do mal absoluto preconizado pelo nazismo. Foi ali que judeus e ciganos serviram de cobaias às diabólicas experiências médicas, que acima de um milhão de seres humanos foram gaseados e que mais de 200 mil homens, mulheres e crianças morreram de fome, frio e doença, de exaustão e brutalidade, ou simplesmente de solidão e desesperança. No entanto muitos presos resistiam à total desumanização esforçando-se por manter alguma dignidade. Cuidar da higiene, ler, escrever, desenhar, ajudar alguém a sobreviver ou até a morrer eram actos que atribuíam condição humana a quem parecia ter desistido de viver. Esther Mucznik, autora dos livros Grácia Nasi e Portugueses no Holocausto, dá-nos a conhecer o dia-a-dia de Auschwitz através das vozes daqueles que ali acabaram por perecer e dos seus carrascos, do insuportável silêncio das crianças massacradas, das mulheres e homens violentados em bárbaras experiências médicas, mas também através dos relatos daqueles que sobreviveram para contar e manter viva a memória do horror da máquina de morte nazi. Para que ninguém possa alguma vez esquecer. Saiba mais.

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Dia 27 de janeiro - Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Saiba mais.



domingo, 26 de janeiro de 2025

INSISTIMOS | na utilidade de um Plano para a Igualdade na Cultura | (digno desse nome)

  


Como defendemos que faz sentido no nosso País refletir  - de forma permanente, continuada e sistemática -   a questão da IGUALDADE NA ESFERA DA CULTURA voltamos, em jeito de lembrete, a sugerir que se olhe, por exemplo, para o que se passa em Espanha. 
Veja no «Portada del Espacio de Igualdad del Ministerio de Cultura». Temos uma «inveja boa» daquela dinâmica ...
Já agora, o vídeo sobre a apresentação do plano:



No nosso País, há muita gente a «fazer coisas» e dá pena que não sejam conhecidas e se constituam como afluentes de processo maior.  Para já também queremos um PORTAL que nos mostre isso mesmo, o que existe. Tipo estaleiro, para a construção de uma OBRA com  participação individual e de organizações a envolver. E na cultura e nas artes é só acionar, um novo élan germinará, e as ideias para ações  concretas não faltarão. Alô, Ministério da Cultura, que tal pensar no assunto e anunciar  uma INICIATIVA, «em grande», pelo 8 de março 2025?



quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

«Depois das sessões de estreia a 11 de Janeiro do documentário Filhos do Meio – Hip Hop à Margem, o filme realizado por Luis Almeida é novamente exibido esta semana no Auditório Fernando Lopes-Graça, no centro de Almada»

 



«(...) As sessões estão marcadas para 23 e 25 de Janeiro, às 21 horas. A entrada é livre, mediante levantamento de bilhetes, sendo que a admissão é sujeita à lotação da sala. A reserva de bilhetes pode ser feita através do endereço de email auditorio@cm-almada.pt e do número de telefone 21 272 4927. (...)».



SANDRA PEREIRA VINAGRE |«As Mulheres Troianas da Síria»

 



«Estas mulheres troianas da Síria evidenciam o poder transformador do teatro ao utilizarem a tragédia grega como veículo de responsabilização colectiva e reflexão, construindo, assim, uma ponte entre tragédia e democracia através da recuperação do vínculo entre o teatro e os valores democráticos, tal como na Grécia Antiga.
(...) é como se assistíssemos a uma sequela da tragédia As Troianas, de Eurípides, depois de as mulheres terem embarcado nos barcos dos gregos e chegado aos respectivos destinos, relatando agora o sofrimento que as levou até ali. O futuro das mulheres troianas é já o presente das mulheres sírias». Saiba mais.

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Ainda, o Resumo da Tese de Doutoramento, conforme aqui registado:
«A tragédia das mulheres troianas tem sido apreciada praticamente desde sempre e a partir do século XX deixa de ser novidade a representação da tragédia de Eurípides em contexto de guerra. No entanto, quando um grupo de mulheres sírias, refugiadas na Jordânia, sem qualquer experiência de actuação, apresenta ao público a sua própria leitura do drama clássico, intitulada Syrian Trojan Women e com encenação de Omar Abusaada, abre-se um novo capítulo na história da recepção do drama clássico e que assume contornos claramente políticos quando a peça é readaptada e transformada para a sua representação num palco ocidental, agora intitulada de Queens of Syria e com encenação de Zoe Lafferty. Partindo da análise destas duas peças de teatro, esta tese apresenta, por um lado, uma reflexão sobre o motivo da escolha de uma peça incluída no cânone ocidental para representação por um grupo de sírias, o modo como a abordagem terapêutica, que esteve na base do projecto inicial, se reflectiu nas modificações à peça clássica, substituindo-se o conceito de fidelidade pelo conceito de testemunho, e de como a sua transferência para um palco ocidental levou a um processo transformativo que é revelador da importância e influência de um específico contexto social e político e de uma mensagem única que se pretende transmitir e influenciar, afectando a análise de categorias trágicas como a culpa e a responsabilidade e inclusive conduzindo a uma inversão do processo da catarse. Por outro lado, esta tese analisa o modo como estas novas leituras da tragédia de Eurípides, apesar de representadas para um público do século XXI, se interligam com o momento da representação das tragédias na polis, através da procura da recuperação do elo entre o teatro e valores intrínsecos a um sistema democrático, responsabilizando-se directamente o público sobre o resultado das suas escolhas políticas num mundo cada vez mais globalizado. Persiste a procura da resposta à pergunta da esfinge, agora formulada de outra forma, consequência das dificuldades enfrentadas pelas mulheres sírias nos países de acolhimento: “What does it mean to be a human?”».


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

EXPOSIÇÃO |«Onde estão elas?» | INAUGURA NO PRÓXIMO DIA 25 | MUSEU DO NEO-REALISMO | VILA FRANCA DE XIRA | ENTRADA LIVRE

 


«No próximo dia 25 de janeiro, pelas 15h00, inauguramos a exposição ONDE ESTÃO ELAS? MULHERES ARTISTAS NA COLEÇÃO DO MUSEU DO NEO-REALISMO.
A exposição parte da reflexão sobre as mulheres artistas na Coleção do Museu do Neo-Realismo, tomando como referência o questionamento sobre a diminuta representação das mulheres na história da arte ocidental. Centra-se nas obras de mulheres da nossa coleção e em depósito no Museu, num horizonte temporal entre a década de 1940 e a contemporaneidade. Estabelece diálogos que suscitam problematizações sobre temas centrais do movimento neorrealista e que constituem preocupações de sempre, intemporais.
Apresentam-se mais de 100 obras de pintura, escultura, desenho, fotografia, instalação, gravura e cerâmica, de 48 artistas, entre as quais, Alice Jorge, Annemarie Clarac, Camila Loureiro, Erika Stone, Gisèle Freund, Gretchen Wohlwill, Hansi Staël, Ilda Reis, Luísa Bastos, Manuela Jorge, Margarida Tengarrinha, Maria Barreira, Maria Beatriz, Maria Gabriel, Maria Keil, Menez, Teresa Sousa, Tereza Arriaga, Toni Frissel, Vinnie Fish, Zulcides Saraiva, em diálogo com obras de artistas contemporâneas, como Alice Geirinhas, Ana Pérez-Quiroga, Carla Filipe, Luísa Ferreira e Rita Barros.
A exposição tem curadoria de Paula Loura Batista e estará patente até 4 de maio de 2025.
Entrada livre». Saiba mais.


domingo, 19 de janeiro de 2025

FILME |«Ainda Estou Aqui»



sinopse

Em 1971, o Brasil está dominado pela ditadura militar. Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, vê-se forçada a reinventar-se quando a vida da sua família é estilhaçada pela violência arbitrária do regime. No seu novo filme, Walter Salles traz-nos a história verdadeira do desaparecimento às mãos da ditadura do ex-deputado federal Rubens Paiva, marido de Eunice. Walter, que na adolescência era amigo de um dos filhos, frequentou a sua casa no Rio, onde se reuniam vários resistentes e se sentia a vibração dos ideais de liberdade do início dos anos 60. O filho mais novo, Marcelo Rubens Paiva publicou um livro sobre a memória familiar e colectiva desta história, precioso para o trabalho do realizador. Uma reflexão sobre como superar a perda e as feridas infligidas a toda uma nação.



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A propósito:

sábado, 18 de janeiro de 2025

«Nunca ouvira falar de Berthe Weill (1865-1951), talvez por ser mulher»

 


Esta semana no semanário Expresso temos
 de Jorge Calado um artigo sobre esta exposição: 

Make Way for Berthe Weill

Art Dealer of the Parisian Avant-Garde

October 1, 2024–March 1, 2025 



Começa com a frase que dá titulo a este postÉ bem possível  que seja  mais uma mulher desconhecida por muitos/as. Para  contrariarmos isso junto dos leitores/as do Em Cada Rosto Igualdade um excerto mais alongado do artigo:
 
«Nunca ouvira falar de Berthe Weill (1865-1951), talvez por ser mulher. Sabia quem eram Ambroise Vollard e Daniel-Henry Kahnweiler, importantes galeristas parisienses nos primórdios do século XX. Também me lembrava de ter lido que a primeira e única exposição individual (1917) na curta vida de Amedeo Modigliani (1884-1920) causara escândalo com os nus (pornográficos?) e fora censurada pela polícia no dia da abertura. Só não sabia que o arrojo de o expor coubera à galerista Berthe Weill e que esta fora também a primeira a comprar e a apresentar obras de Pablo Picasso (1902), Henri Matisse (1902), Fernand Léger (1913), Diego Rivera (1914), etc., e a promover o trabalho de pintoras como Suzanne Valadon (que mostrou em mais de 30 exposições, incluindo três individuais). Uma surpreendente exposição no Grey Art Museum, da Universidade de Nova Iorque, “Make Way for Berthe Weill — Art Dealer of the Parisian Avant-Garde” (“Abram Caminho a Berthe Weill — Galerista da Avant-Garde Parisiense”, até 1 de março de 2025), resgata-a do olvido. A mostra seguirá em maio para o Museum of Fine Arts, em Montreal, no Canadá, e finalmente para o Musée de l’Orangerie, de Paris, em França, em outubro de 2025. Vaut le voyage! (...)». Se puder leia na integra.

Entretanto, podemos saber mais  visitando o site da Galeria, nomeadamente ver o que a «Press» diz sobre a exposição. E do Programa paralelo, por exemplo: 




Para terminar agradecemos a Jorge Calado por nos levar nesta viagem. De facto, gostámos de saber que Berthe Weill existiu - que vida!



sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

CONFERÊNCIA | «O papel dos acompanhantes na prevenção da violência contra pessoas idosas» | 21 JAN 2025 | GULBENKIAN |LISBOA

 


« (...) Esta conferência está inserida na terceira fase desta iniciativa – Portugal Mais Velho – Capacitar e Apoiar Pessoas Idosas Vítimas de Crime e Violência –, e focar-se-á no papel dos acompanhantes das pessoas idosas, quer sejam familiares ou técnicos de respostas sociais. O objetivo é debater e compreender de que forma os acompanhantes podem exercer o papel de agentes de prevenção e sinalização da violência contra as pessoas acompanhadas. (...). Saiba mais.


 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

«Teresa Gafeira podia ter sido arquitecta, quis ser bailarina, mas foi no teatro que se encontrou. Na casa de sempre, a Companhia de Teatro de Almada, prepara-se para ser a mãe de Marguerite Duras»

 



Na imagem temos TERESA GAFEIRA a conversar no «Sou Pessoa Para Isso». Fala-se  de «Uma Barragem Contra o Pacífico» onde vai ser a mãe de Marguerite Duras. Aproveitemos, para voltarmos ao livro que  vai dar ao espetáculo programado pela CTA, a estrear em março 2025:

«Este romance é mais do que uma viagem guiada pelo território nebuloso da memória. É mais do que uma narrativa construída sob o fascínio das letras de Pierre Loti e sob o efeito da descoberta do seu contagiante exotismo. É já o emergir de uma voz pessoalíssima e de uma concepção romanesca que vive muitas vezes paredes meias com o tempo cinematográfico. Uma Barragem contra o Pacífico poderia ser, também ainda hoje (1988), apenas uma visita guiada aos escombros das propagandas coloniais com que se encheram as paredes da Europa no fim do séc. XIX e na primeira metade do séc. XX para os deserdados e os desiludidos dessa mesma Europa, os que simplesmente procuravam (onde?) o seu quinhão da herança de espaço e mundos novos, ou tão só um lugar seu, onde viver e trabalhar, um canto da planície, entre a floresta e o Pacífico, só com o Sol por cima e hectares de terra fértil a perder de vista, onde apenas haveria que produzir, criar uma família (e, naturalmente, enriquecer) sem problemas nem políticas, sem a sensação de desespero e asfixia das metrópoles; para isso, segundo Marguerite Duras, bastava a embriaguês causada pelas leituras de Pierre Loti. Sim, este romance poderia muito bem ser essa visita guiada... Se antes de mais não fosse a evocação daquelas vidas jovens que, no momento de tomarem posse de si e da terra, já lá na colónia, face à monstruosidade insensível do Pacífico e à transparência mesquinha das suas existências de «brancos pobres» sem horizontes, mais não possuem entre mãos e no corpo do que a raiva surda, que só jovens que batam com a cabeça contra um muro tão duro e tão pouco sólido como o Pacífico podem conhecer, uma raiva que é surda porque não há onde nem a quem reclamar contra a fraude. Precisamente porque «a mãe» morre, a lutar até à insanidade, para dar corpo a uma perfeita loucura — uma barragem que detivesse o Pacífico! —, acreditando em si mais do que no sonho, é verdade, e dessa luta inglória retirando todo um orgulho inútil e toda uma liberdade que é só riso da sua própria situação. Será necessário, então, que alguém conte, que não se esqueça, que mantenha uma factura por prejuízos indefiníveis dentro do prazo de validade. É o que Joseph pede a Suzanne, ele que se considera já contaminado, ganho pelas emanações deletérias da vida da colónia, um destroço à deriva nas ruas da capital colonial que, lucidamente, sabe que a sua raiva só contra si próprio se pode exercer e que nenhuma vingança lhe devolveria o respeito por si próprio e a «mãe maluca» mais as suas absurdas contas e as suas barragens sem pés nem cabeça, roídas por todos os sabotadores (incluindo os caranguejos trazidos pela crueldade das marés do Pacífico) das esperanças dos colonos. Só no cinema (melhor: só numa sala de cinema) Joseph encontrará uma saída para a sua raiva, uma solução de vida, colonial e cinematográfica a mais não poder ser. Mas uma adolescência na Indochina é também um cinema sobre a adolescência, erguido por cima dos escombros das vidas dos adolescentes coloniais. Sequência a sequência, neste seu primeiro grande romance, Marguerite Duras dá-nos — como quem recusa a perda dos sonhos de amor e vida dos seus anos juvenis na Indochina e precisasse de os contar, lembrando-se sempre de mais e mais pormenores, mais factos à medida que o passado se perde, para que no fim haja aquilo a que se chama o presente da memória, o presente do passado —, num fundo tropical de noites, plantações, dinheiro, bailes, álcool, com um gira-discos a tocar a Ramona, enquanto um diamante pode ser ainda um último fôlego, os encontros dos desejos com os corpos, ou tão só a poesia do regresso à ordem natural das coisas...». Saiba mais.

O Teatro para a Infância também é conversado, e dá vontade de lembrar a programação para 2025 da CTA/TMJB:



Gostámos em especial do que diz de maneira sábia sobre o que parece «estar na moda»: Teatro interativo e participativo com a comunidade. DE facto anda a falar-se disso como se nunca tivesse acontecido. Reflete, e não se retrai para dizer que não gosta que a «incomodem» quando está a ver um espetáculo, até porque isso, por natureza, já é interativo.  Conta retalhos do trabalho de sempre da CTA com a comunidade ... Enfim, uma mulher antiga, cheia de modernidade. A nosso ver, terá de estar em todos os painéis sobre MULHERES INSPIRADORAS. Ou seja, por exemplo, porque adere quando se deseja que se  «Conheça a história inspiradora de mulheres que, com fervor e determinação, se dedicaram à defesa das conquistas do 25 de Abril, moldando de maneira profunda a sociedade portuguesa. Navegando destemidamente pelos territórios da política, cultura, ciência e ativismo, essas mulheres, tanto antes como depois da Revolução dos Cravos, desempenharam papéis fundamentais, garantindo que os direitos das mulheres transcendessem as fronteiras da mera retórica» como se ambiciona neste tempo em que se comemora os «50 anos abril». Sobre este aspeto talvez voltar a este post. 
Conclusão: não perca esta conversa. Teresa Gafeira não dá muitas entrevistas. E ganhamos em conhecê-la. Institucionalmente há obrigação de lhe dar visibilidade encontrando caminho e critérios para não fazer parte das MULHERES ESQUECIDAS, na circunstância, na cultura e nas artes.  


quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

NOTÍCIAS A QUE NÃO SE PODE FICAR INDIFERENTE |«Cerca de 3 mil empresas foram efetivamente notificadas pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) para analisarem as diferenças salariais e homens e mulheres» | A NOSSO VER TÃO IMPORTANTE COMO CORRIGIR SERIA ÚTIL SABER DAS CAUSAS

 

ACT notifica 3 mil empresas para justificarem diferenças salariais

Cerca de 3 mil empresas foram efetivamente notificadas pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) para analisarem as diferenças salariais e homens e mulheres e apresentar um plano que justifique ou corrija essas disparidades. Entre estas estão, segundo um advogado, empresas que receberam o “selo da igualdade”.

daqui

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Sobre o assunto, no site da ACT:

«Igualdade no trabalho

 A igualdade e não discriminação constituem direitos humanos fundamentais.

 O direito à igualdade em todos os locais de trabalho constitui uma preocupação mundial expressa na Agenda do Trabalho Digno da Organização Internacional do Trabalho (OIT) definida em 1999, reforçada pela Declaração da OIT sobre justiça social para uma globalização justa em 2008, e pelas políticas e estratégias da OIT 2010-2015, que visaram assegurar os direitos fundamentais do trabalho.

Em Portugal a Constituição da República Portuguesa e o Código do Trabalho consagram o direito à igualdade e não discriminação. (...). Leia na integra.

 

OUTRA VEZ O JORNAL DE LETRAS | no mais recente Clarice Lispector é tema _ há artigo sobre Adília Lopes _ fala-nos de Isabel Ruth _ temos trabalho sobre livro de Teolinda Gersão _ e muito mais ...| A NÃO PERDER

 



segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

«NO TEMPO DOS GIRASSÓIS»

 


Sinopse

Inspirado em testemunhos reais, No Tempo dos Girassóis oferece uma visão vívida e detalhada da experiência da Guerra Civil, desde as plantações bárbaras e desumanas, a uma cidade de Nova York devastada pela guerra e aos horrores do campo de batalha. É uma história arrebatadora de mulheres presas num país à beira do colapso, numa sociedade às voltas com o nacionalismo e a crueldade racial, uma história ainda hoje tão relevante.

Georgeanna «Georgy» Woolsey destoa do mundo das festas luxuosas e do recato das mulheres da sua posição. Por isso, quando a guerra assola a nação, Georgy segue sua paixão pela enfermagem, num tempo em que os médicos consideravam as mulheres na frente de batalha um incómodo. Ao provar que estavam errados, Georgy e a irmã, Eliza, aventuram-se de Nova York a Washington e a Gettysburg, testemunhando os horrores da escravidão quando se envolvem no esforço de guerra.
No sul, Jemma é escravizada na plantação Peeler, em Maryland, onde vive com a mãe e o pai. A irmã, Patience, é escravizada na plantação vizinha, e ambas vivem com medo de LeBaron, um capataz abusivo que controla cada movimento delas. Quando Jemma é vendida pela cruel dona da plantação, Anne-May, ao mesmo tempo que o exército da União aparece, vê, então, finalmente, uma hipótese de escapar ? mas que implica abandonar a família que ama.
Anne-May fica a administrar a plantação Peeler quando o marido se junta ao exército da União e o seu querido irmão se alista. No comando da casa, Anne-May usa a oportunidade para seguir as próprias ambições e é atraída para uma rede secreta de espiões do Sul, acabando por se expor ao destino que merece. Saiba mais.



domingo, 12 de janeiro de 2025

«de toutes beautés! _ Cada obra, à sua maneira, leva-nos a questionar a nossa perceção da beleza ao longo do tempo e, por vezes, mostra que certas questões ainda são relevantes hoje em dia»

  



«(...)“De toutes beautés!”, que é acompanhada por uma aplicação digital com conteúdos áudio e interativos, oferece uma narrativa através de 42 obras, cada uma com uma etiqueta específica. Cada obra, à sua maneira, leva-nos a questionar a nossa perceção da beleza ao longo do tempo e, por vezes, mostra que certas questões ainda são relevantes hoje em dia.
A escultura do "Hermaphrodite endormi" (Hermafrodita adormecido), baseada num original grego datado de 150 a.C., levanta questões sobre a noção de género, enquanto o "Voltaire nu" de Jean-Baptiste Pigalle, datado de 1776, que retrata o escritor e filósofo francês vestido com um simples lençol e representado na “verdade do envelhecimento”, com um rosto magro e um corpo enrugado, levanta questões sobre a idade e a sua representação. (...)». Leia mais.


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 E no semanário Expresso:

"Não há um conceito universal de beleza, ela implica sempre o olhar do outro": a história da beleza está no Louvre até 2027

De toutes beautés!” partiu de uma parceria conjunta entre o Museu do Louvre e o departamento de Arte, Cultura e Património do grupo de cosmética L’Oréal, e é Delphine Urbach, diretora deste departamento e curadora desta exposição que começa por responder: “Não há um sentido universal para o conceito de beleza. Implica sempre o olhar do outro e, por isso, ela é subjetiva, plural e diversa. O objetivo desta exposição foi falar da importância fundamental que teve no desenvolvimento das sociedades.”

Partindo de uma escolha entre o acervo deste colossal museu — ocupa uma área de quase 73 mil metros quadrados e alberga uma coleção com cerca de 38 mil obras que abarcam mais de 10 mil anos da história da arte — a curadoria de “De toutes beautés!” selecionou 108 obras, sugerindo-se a partir delas um guião visual e sonoro que foi desenhado em três linhas de orientação: “Gestos rituais e práticas de beleza”, “Cânones ou visões idealizadas” e “O que as questões sobre aparência e beleza revelam sobra a sociedade e as suas transformações”. (...) Se tiver acesso leia na integra.

 

 


sábado, 11 de janeiro de 2025

EXPOSIÇÃO EM BARCELONA |«Amazònies El futur ancestral»

 



«Amazònies. El futur ancestral» ens endinsa en la immensa riquesa natural i cultural del territori, les ciutats i les comunitats indígenes de l’Amazònia per conèixer l’art, el pensament i l’enorme impacte ecològic d’una regió que és central per al futur del planeta. Saiba mais.



quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

«INCLUSIVA _ No ano do 65º aniversário da boneca surgiram uma Barbie cega e uma Barbie deficiente. Antes, houvera a Barbie sem cabelo ou a de cadeira de rodas»

 


No semanário Expresso mais recente, temos um trabalho sobre a Barbie donde retirámos o que está no titulo deste post. Mais este excerto: «(...) Isto porque o lançamento da Barbie também coincide, historicamente, com a emergência e consolidação da segunda vaga do feminismo, enquanto movimento e área de conhecimento, diz Bernardo Coelho, sociólogo, investigador e professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa: “As diversas correntes teóricas (e de movimentos feministas) assumem uma agenda que passa, em grande medida, pela oposição à doutrina das esferas separadas: as mulheres limitadas à esfera doméstica, afetiva e dos cuidados (com a família, marido, filhos e casa); os homens com o monopólio de acesso à esfera pública (mundo do trabalho, poder económico e político). Esta cisão de mulheres e homens em universos distintos é percebida como causa fundamental para a desigualdade.” Ao mesmo tempo, e aqui está a ambiguidade que gera polémica, e que espelha o lugar de tantas mulheres até hoje, “a Barbie nunca deixa de espelhar a mentalidade do seu tempo, a de uma mulher ‘feliz’ com a sua posição subalterna”, sublinha o professor. “Durante décadas, a Barbie não tinha profissão, nem sequer indiciava qualquer tipo de participação na esfera pública. Ainda mais, é percebida como um objeto de difusão de um modelo de feminilidade que não só cumpre com aqueles requisitos conservadores (e produtores de desigualdade) como também cria uma nova exigência a esse modelo de feminilidade conservadora: as mulheres devem cuidar de si, devem ser bonitas. Ou seja, a Barbie é também percebida como um instrumento de colonização do corpo das mulheres.” Depois recorda que a Barbie é contemporânea do forte desenvolvimento da indústria dos eletrodomésticos, sobretudo nos EUA: “Uma era dourada do desenvolvimento de múltiplos objetos e maquinetas para auxiliar a execução das tarefas domésticas, mas sem que isso queira dizer maior igualdade ou menor subalternização das mulheres.” Por isso, a Barbie é, tantas vezes, acusada de ser um símbolo do pior conservadorismo wasp norte-americano. (...)». Se puder não perca o trabalho - se tiver acesso online é aqui.

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De livre acesso online:

De lá: «(...) Polémicas à parte, esta boneca de 65 anos reinventou-se de modo a tornar-se mais inclusiva, representando mais tipos de corpos, etnias e até limitações. Celebrar a diversidade é precisamente o ponto de partida deste livro, no qual personalidades de todas as áreas mostram como esta boneca influenciou a sua vida pessoal e profissional. As Barbies, dentro e fora do livro, são símbolos de independência e emancipação. Tomam o centro da sua própria vida e a ideia que apenas a Barbie magra de cabelo loiro pode ser uma Barbie desapareceu. A Barbie pode ser de todas as formas, cores e feitios e cada uma terá os seus interesses e talentos. (...)».

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

«Clara Andermatt», da realizadora Cristina Ferreira Gomes, é exibido esta sexta-feira na Gulbenkian. No sábado chega à RTP2

 



«Documentário sobre obra da coreógrafa Clara Andermatt com antestreia em Lisboa

Clara Andermatt, da realizadora Cristina Ferreira Gomes, é exibido esta sexta-feira na Gulbenkian. No sábado chega à RTP2.