Looking for tenderness, Beirut, Lebanon, 2018
© Myriam Boulos/Magnum Photos
Sobre a Exposição no semanário Expresso na «Fisga», de João Pacheco:
«À procura de ternura
Agradecemos por escrito com um abraço. Despedimo-nos com um grande abraço. Abraçamo-nos nos melhores momentos. E também nos piores. Sabemos que quatro braços servem para dar dois abraços, como canta um grande escritor de canções português. Mas sim, os braços e as mãos humanas podem também gastar energia em tarefas nada ternas. Como o manejo manual de armas de fogo ditas automáticas. Ou a posse de facas de queijo. Ou a dinâmica de teclados e de canetas, com o poder de cancelar ou de apagar outros seres humanos.
Milhares de anos antes de ter sido inventada a escrita, talvez uma inclinação evolutiva para a ternura tenha contribuído para que os chamados seres humanos modernos prevalecessem. Resistimos e reproduzimo-nos, apesar de não sermos os mais fortes ou os mais inteligentes. Evoluímos e espalhámo-nos pelo mundo, em parte porque somos dados à curiosidade da ternura fora da tribo. Essa teoria científica tem pernas para andar, garantiu-me há dias um amigo, em frente a um prato do dia de coelho à caçadora. Pode parecer inverosímil, mas de um ponto de vista estatístico e no tempo histórico dos séculos e não das décadas o mundo tem ficado cada vez menos violento. Pois, isso foi o que me disse ao almoço o mesmo amigo otimista. Mas, agora, é complicado arranjar atenção para o tempo dos séculos e para as estatísticas, quando vemos a população de Gaza a ser esmagada, a pretexto do extermínio de terroristas. E quando vemos Washington a tornar-se uma capital antidemocrática. Ou quando a Ucrânia se afunda perante as forças do regime ditatorial russo, com probabilidade crescente de haver botas europeias metidas ao barulho. (...)».

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