«Zerlina é uma das mais famosas criadas de sempre. A sua história, de aparência simples, é formada por uma sobreposição de camadas que a tornam não apenas complexa como plural. A personagem, que surge num dos contos de Os inocentes (de 1950, que não por acaso os franceses traduziram por Os irreponsáveis), nasceu às mãos do escritor austríaco modernista Hermann Broch (1886-1951), um autor para quem a definição de arte tinha de assentar numa filiação relativamente à quintessência da humanidade, e jamais no belo pelo belo.
Num exercício retrospectivo, Zerlina expõe uma história de paixão atravessada pelo ressentimento sexual e classista, por um erotismo primitivo e por uma obsessão ética. Zerlina integra a vasta galeria daqueles em quem a brutalidade jamais cedeu à civilização, e que por essa razão transportam, sem consciência disso, as bandeiras mais tenebrosas, e desde logo a do nazismo, que Broch, judeu perseguido, dissecou nas suas razões ocultas.
Jeanne Moreau interpretou Zerlina em 1986 no Théâtre des Bouffes-du-Nord, numa famosa encenação de Klaus Michael Grüber. Em Portugal, a Zerlina mais famosa é a de Eunice Muñoz (dirigida por João Perry em 1988). Agora é a vez de Luísa Cruz, num desempenho que lhe valeu um Globo de Ouro em 2019, sendo dirigida pelo cineasta João Botelho, naquela que constituiu a sua estreia como encenador teatral». Saiba mais
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