Da aclamada autora franco marroquina Leïla Slimani, uma atmosférica e inquietante saga familiar que põe em relevo uma mulher enredada entre duas culturas, dividida entre a dedicação à família e o amor à liberdade com que cresceu.
Em 1944, Mathilde, uma jovem alsaciana, apaixona-se por Amine, um oficial marroquino que combate no exército francês durante a Segunda Guerra Mundial. Terminada a guerra, o casal muda-se para Marrocos e instala-se perto de Meknés. Amine dedica-se a recuperar a quinta herdada do pai, tentando arrancar frutos de uma terra pedregosa e estéril.
Enquanto isso, Mathilde começa a sentir o jugo dos costumes conservadores do novo país, tão sufocante quanto o seu clima. Nem a maternidade apaga a solidão que sente no campo, longe de tudo, num lugar que não é o seu e a verá sempre como estrangeira.
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E da critica de Luís M..Faria no semanário Expresso da semana passada:
«(...)
Nos meses seguintes, o desespero continua, e Mathilde rapidamente conclui que o marido deixou de ser o homem que ela conheceu, transformando-se em alguém exclusivamente preocupado com trabalho. Quanto a ela, perdeu o lugar de onde era sem ganhar um novo, pois nem o país lhe pertence realmente nem ele a ela. Mathilde será sempre a estrangeira, e Marrocos será sempre o país dos outros, dos homens que esperam que as mulheres aguentem e não se queixem e das mulheres cujas expectativas também não passam daí. O alheamento estende-se a Amine, casado com uma francesa numa altura em que o ressentimento contra os colonos está em crescendo e atos como o seu são vistos de forma cada vez mais negativa. Embora continue a amar a sua mulher, também ele está longe de ser feliz. “Tinha a sensação de que a sua vida era regida por um movimento de pêndulo descontrolado. Por vezes, sentia uma necessidade violenta e cruel de regressar à sua cultura, de amar de corpo e alma o seu deus, a sua língua e a sua terra, e a incompreensão de Mathilde punha-o fora de si. Queria uma mulher parecida com a mãe, que o compreendesse nas entrelinhas, que tivesse a paciência e a abnegação do seu povo, que falasse pouco e trabalhasse muito. Uma mulher que o esperasse ao final do dia, silenciosa e dedicada, e que o observasse enquanto comia e encontrasse nisso toda a sua felicidade e a sua glória. Mathilde fazia dele um traidor e um herege.”
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