sábado, 20 de novembro de 2021

«Falar em público»

 


no semanário Expresso | A culpa não é dos genes | Sandra Maximiano

O artigo começa assim:

«Só esta semana, recebi três convites para integrar painéis em conferências não-académicas. Dois dos eventos irão ocorrer em poucos dias. Todos são em áreas das quais não sou especialista. A minha agenda está cheia e os dias acabam sempre com a sensação de que preciso de mais tempo ou de um clone. Cada vez que aceito um convite destes sinto que legitimo maus hábitos: a falta de planeamento português e os convites de última hora, achar-se que a profissão de economista serve para falar sobre qualquer assunto e aceitar-se como normal a não-compensação monetária das atividades intelectuais. Então, porque não dizer “não”? Porque sou mulher e carrego o peso de fazer o que apregoo. Durante anos tenho criticado a baixa representatividade feminina na esfera pública, um problema que resulta da conjugação do preconceito, discriminação, enviesamento a favor dos pares — o que faz com que homens convidem mais homens —, mas também porque as mulheres rejeitam mais estes convites.

As mulheres, em média, recusam mais frequentemente participar em debates públicos. Por um lado, devido a restrições familiares. Por muito que os homens realizem tarefas domésticas e até ocupem o mesmo tempo nestas que as mulheres, são elas que, em geral, assumem as tarefas do final da tarde, como ir buscar os filhos à escola ou preparar o jantar. Neste caso, a participação feminina em debates e conferências exige uma maior reor­ganização familiar do que se a participação for masculina. (...)».


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