Excerto: «(...) O primeiro resultado marcante é a diferença entre o percurso da produtividade por género. Até ao casamento, homens e mulheres são semelhantes. Mas, depois, entre os 28 e os 40 anos, a produtividade das mulheres não aumenta, enquanto que a dos homens sim. Depois, a partir dos 40, a produtividade das mulheres começa a aumentar enquanto que a dos homens estagna. Os economistas mostram que a diferença está concentrada nas cientistas que se casam e têm filhos. A sua produtividade retoma o crescimento aproximadamente 15 anos depois do casamento, quando para muitas, as crianças precisam de menos atenção. Isto implica que, quando olhamos para cientistas com mais de 50 anos, as mulheres são tão ou mais produtivas do que os homens. Mas, quando olhamos para os cientistas entre os 35 e 40 anos, os homens estão acima das mulheres e a diferença entre eles está no seu máximo. Ou seja, é na idade em que os cientistas são julgados e promovidos a professores (as posições seniores) que a diferença entre eles e elas é maior. Isto provavelmente explica porque é que na geração coberta pelo estudo, 62% dos pais foram promovidos mas isso só aconteceu com 38% das mães (e, já agora, num outro grupo de estudo 54% das mulheres sem filhos foram promovidas). Explica também porque é que as mulheres cientistas escolhem ter filhos com uma probabilidade que é só 2/3 daquela que verificamos para os homens cientistas, e só metade se casa com uma frequência que é metade da dos homens.
Estes resultados refletem o panorama dos anos 50 e 60, que é a amostra do estudo. Com amostras mais pequenas e maior dificuldade em separar o efeito causal dos filhos, outros estudos usando amostras mais recentes descobrem resultados qualitativamente consistentes (se bem que não no tamanho). Durante 2020, quando fechámos as escolas, a produtividade das mães cientistas caiu muito mais do que a dos homens. Alguns inquéritos mostram que as mães com filhos com menos de seis anos perderam 17% mais tempo do aquelas com filhos mais velhos. Por sua vez, como já escrevi neste espaço, os dados dos países nórdicos mostram que mesmo com licenças de maternidade generosas e creches públicas, ainda há um efeito grande e permanente da natalidade no salário das mães em relação aos pais ou às mulheres sem filhos.
Para pôr estes resultados no seu contexto, hoje, na população entre os 25 e os 34 anos, em todos os países da OCDE sem uma única exceção, há mais mulheres com um curso superior do que homens. As mulheres são a maioria dos estudantes de direito ou medicina ou dos programas de doutoramento. É já praticamente certo que a maioria das mulheres no futuro próximo se vai provavelmente casar com um homem que ganha menos do que ela. Não me parece que elas vão aceitar que ter filhos implique que os papéis se invertam, e passem eles a ganhar mais. Ou a natalidade vai cair (ainda mais?), ou o papel de pais, mães e Estado na educação das crianças vai-se alterar muito. É difícil imaginar que isto não implique mudanças na organização do trabalho, incluindo no trabalho à distância e no teletrabalho, com uma influência mais profunda e prolongada do que a da pandemia. Uma tendência que se vê já é mulheres que se casam mais tarde e têm filhos depois dos 40 (quando já ascenderam aos cargos seniores) usando os avanços na inseminação artificial. A pandemia pode ser o ponto de viragem em que estas mudanças se tornam mais visíveis. Mas, mais cedo ou mais tarde, elas iam acontecer».
A propósito, e referido no artigo:
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