domingo, 22 de janeiro de 2023

«TRANSFAKE» | Na última quinta-feira «ativista invadiu o palco seminua e gritou "transfake", em referência ao facto de uma das duas personagens trans ser interpretada por um ator cisgénero»| O PROTESTO LEVOU A UMA MUDANÇA NO ELENCO

 



Excertos do artigo a que se refere a imagem: «Na noite desta quinta-feira, dia 19 de janeiro, a peça de teatro "Tudo Sobre a Minha Mãe", em cena no Teatro São Luiz, em Lisboa, foi interrompida pela performer e atriz travesti brasileira Keyla Brasil. A ativista invadiu o palco seminua e gritou "transfake", em referência ao facto de uma das duas personagens trans ser interpretada por um ator cisgénero, André Patrício. "Transfake! Desce do palco! Tenha respeito por este lugar", gritou». (...)

Esta sexta-feira, 20 de janeiro, o site do Teatro São Luiz anunciou que a contestação levou a uma mudança no elenco. "No seguimento de vários atos de contestação pela representação de uma personagem trans por um ator cis e pela criação de condições de acesso e representatividade para pessoas trans, o Teatro do Vão decidiu alterar o elenco do espetáculo Tudo Sobre A Minha Mãe, texto de Samuel Adamson, a partir do filme de Pedro Almodóvar, com encenação de Daniel Gorjão, integrando a atriz trans Maria João Vaz na interpretação da personagem Lola. Esta possibilidade torna-se agora viável pelo empenho do Teatro São Luiz e do Teatro Municipal do Porto", pode ler-se na página do teatro».

Acresce reparar que a generalidade da imprensa deu cobertura ao sucedido e dizem-nos que tem ocupado redes sociais:





É de ler também neste endereço "A mudança faz-se mudando": encenador Daniel Gorjão reage a invasão de palco de artista trans Keyla Brasil.


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Registado o que acabamos de registar, lembramos que neste post tinhamos divulgado a peça e, coincidência!, no mesmo dia o início da polémica a que se refere o que atrás expusemos. Ora, no EM CADA ROSTO IGUALDADE entre outras finalidades queremos contribuir para o debate em torno das igualdades e da diversidade. E  este acontecimento no São Luiz se um mérito já teve foi chamar a atenção para este assunto que é debatido de forma séria e argumentada por esse mundo fora. Aliás, do propósito do espectáculo, como se pode ler no site do São Luiz: «Daniel Gorjão pretende com este espetáculo dar palco e voz a temas que se encontram socialmente em discussão na agenda mediática, como é o caso da identidade de género e orientação sexual, permitindo uma reflexão por parte do público». Assim, entrando no debate, a quente, o nosso contributo, no seguimento de outros posts em que direta ou indiretamente nos focamos no problema, nomeadamente chamando a atenção para um filme, um peça de teatro, um livro, para ... a força da cultura e das artes na denúncia de desigualdades e na construção de soluções, em particular na estruturação de politicas públicas. E, claro, mostramos  figuras  a seguir pelas mais diversas razões. Se bem nos lembramos já o fizemos para os que «gritam» TRANSFAKE - e são  a favor ou contra. Neste quadro, de seguida, alguns apontamentos.

COMECEMOS PELOS TERMOS  


Transfake: a exclusão de pessoas trans que fortalece os estereótipos na arte

Em analogia ao blackface, o termo é referente à interpretação de personagens transgêneros por atores e atrizes cisgênero


De lá: « De acordo com a atriz e pesquisadora Renata Carvalho, que é fundadora do Movimento Nacional de Artistas Trans (Monart), o transfake nasce do “blackface”, que é uma prática racista em que atores brancos pintam o rosto de preto, fingindo ser negros, para fazer comédia sobre pessoas negras. Diferentemente do blackface, o transfake não ocorre somente na comédia, mas também no drama, quando personagens transgênero são interpretados por pessoas cisgênero, sem fidelidade à realidade e alimentando esteriótipos preconceituosos.
“Esse nome foi dado pelo movimento trans em 2017. Algumas pessoas não gostaram e tentaram mudar para ‘transface’, em referência ao blackface, mas nós não aceitamos porque não é a mesma coisa. O transfake não ocorre somente na comédia, mas também no drama. O que as duas coisas têm em comum é a prática de excluir corpos, pretos e trans, dos espaços de criação de arte”, explica Renata.
“Nós existimos nos roteiros, nas novelas, nas peças de teatro, mas não é permitido que nossos corpos estejam presentes para representar papeis, principalmente os protagonistas”, completa».

CISGÉNERO


Veja na wikipedia

Dito de outra forma: «Você já ouviu os termos cisgênero e transgênero? Esses nomes referem-se ao que é conhecido como identidade ou expressão de gênero, ou seja, à maneira como uma pessoa identifica-se. O ser humano pode identificar-se com seu sexo de nascimento (macho ou fêmea, masculino ou feminino), com o gênero oposto ao seu biológico ou apresentar características dos dois tipos». Daqui


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Cruzando o protesto em torno de «Tudo sobre a minha mãe», do São Luiz, com os termos / conceitos anteriores,  não surpreende que muitas pessoas - nas quais pensamos nos incluimos  (mas com toda a disponiblidade para continuar a reflectir) -  sintam alguma incomodidade, por exemplo, ao lembrarem-se de representações fabulosas, como as que se verificaram nos trabalhos abaixo - e certamente nelas se poderão incluir a contestada do espectáculo aqui  em causa. E também não se consegue aderir facilmente à substituição no elenco. O que neste momento sobreleva: é perturbador. Onde fica a liberdade na criação?  Mas ainda a procissão vai no adro ..., e de repente até concluimos que foi a melhor solução. Veremos. Mas vamos a trabalhos com representações de «perder o fôlego» e que praticado o «transfake» não os teriamos:



Veja aqui


Densifiquemos: «Eu sou a Minha Própria Mulher”, neste caso protagonizada por Marco D’Almeida, foca-se na vida de Charlotte von Mahlsdorf, uma pessoa transgénero que viveu sob o regime nazi, primeiro, e depois na Berlim Oriental da República Democrática Alemã. A peça estreou-se nos Estados Unidos em 2003, e venceu vários prémios, incluindo um Pulitzer de Teatro e um Tony Award. A encenação de Carlos Avillez, na qual Marco D’Almeida interpreta 35 personagens, abriu em fevereiro a temporada 2022 do Teatro Experimental de Cascais (TEC)».


Leia aqui uma critica ao filme

E a juntar à linha de raciocinio que tentamos desenvolver nesta parte do post, mais isto: «Por que atores cisgêneros não devem mais aceitar personagens trans?O ator Eddie Redmayne ganhou um Oscar por seu papel em A Garota Dinamarquesa (2015). Hilary Swank também levou uma estatueta pelo filme Meninos Não Choram (1999), assim como Jared Leto por Clube de Compras Dallas (2013). Felicity Huffman não venceu, mas foi indicada por seu trabalho em Transamérica (2005). Em comum, todos são atores cisgêneros interpretando personagens trans. Uma situação que não pode mais ser encarada como normal».

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No deambular pela internet em busca de argumentos em torno do Transfake e do seu contexto este encontro:


«Acho que o meu maior sonho seria ser apenas uma artista, mas ainda sou e somos a artista ‘trans’» 

Maria Lucas -  Daqui, ou seja, deste «papo»:



Dizer que IMS é a sigla do prestigiado  INSTITUTO MOREIRA SALLES.

Nesta circunstância particular lembrámo-nos da questão das QUOTAS de maneira a equilibrar as situaçoes entre HOMENS e MULHERES em lugares de trabalho. Quem sabe se pode ir a esse debate - ampliá-lo? -   para o que agora nos está aqui a ocupar... De momento nem nos lembramos quem o disse mas veio-nos também à memória esta posição: eu não gosto de quotas, mas gosto do que elas provocam. Talvez se adeque à discussão que agora nos move.


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O post já vai longo,  vamos rematar, assim: 

- As «igualdades/desigualdades» devem ser discutidas em toda a parte. Defendemos que as ORGANIZAÇÕES quaiquer que elas sejam (por conseguinte também as de cultura e artes) são sedes de excelência em alternativa a um debate generalista embora não se exclua, naturalmente. E para isso é útil ter presente o DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL em que as igualdades e diversidades estão presentes e constam da seguinte formulação: 


Por exemplo, se procurarmos em RELATÓRIOS DE EMPRESAS de referência, em especial se INTEGRADOS, verificamos que as problemáticas que aqui nos estão a ocupar são tratadas.

 - Em termos institucionais, e para o nosso País, lembrar que existe a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Géneroa «A Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030 «Portugal + Igual», e o Plano de Ação para o Combate à Discriminação em razão da Orientação Sexual, Identidade e Expressão de Género, e Características Sexuais. Não nos parece descabido que se questione que atividades há neste dominio particular.

- Por fim, impõe-se que o Ministério da Cultura nos diga o que tem a dizer sobre tudo isto, nomeadamente como estas problemáticas têm expressão no MODELO DE APOIO ÀS ARTES e divulguem as reflexões e estudos em que se apoiam.

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Ainda, na Nações Unidas os assuntos  abordados neste post fazem parte de diferentes agendas. Apenas atitulo de ilustração na UN WOMEN:


Veja aqui

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