«No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, Hoje soube-me a pouco reúne um conjunto de artistas e obras que marcaram o período posterior ao momento fundador da democracia portuguesa. Um tempo de mudança política e social, mas também uma época pródiga em novas atitudes e expectativas artísticas, que colocou em evidência o empenho dos artistas em construir percursos fortemente idiossincráticos e autónomos relativamente às utopias coletivas abertas pela revolução, podendo as suas obras ser consideradas como a herança cultural mais rica do próprio processo de abertura da sociedade portuguesa. Além de incluir várias das principais figuras da arte contemporânea portuguesa dos anos 1970 e 80, a exposição inclui também artistas de gerações mais recentes cujas obras prosseguem e expandem legados e tendências criativas que emergem depois de 1974.
Partindo da Coleção de Arte Fundação EDP, à qual se juntaram obras de outras coleções privadas e institucionais, e também algumas obras inéditas, a exposição privilegiou algumas linhas de futuro desencadeadas pela transição democrática: sintomas de introversão do artista, através da explicitação das suas singularidades (pulsões narcísicas, inquietudes, emoções, fantasias pessoais...) e da capacidade de as afirmar criticamente no espaço comum; a emergência de novas temáticas e de novos imaginários (ficcionais, feministas, especulativos...) que assinalam a fragmentação das narrativas dominantes; uma renovada atenção pelas matérias – figuras, situações, objetos, intimidade – do quotidiano, e também uma clara expansão dos procedimentos criativos, mediante um pendor experimental no uso dos meios e materiais, frequentemente através da recoleção, do serialismo e da hibridação das disciplinas artísticas; e, por fim, o interesse pelas questões e limites da linguagem, nomeadamente através da opção por posturas retóricas (como a ironia, a paródia, a alegoria) que acentuam o caráter paradoxal da obra de arte na relação com a realidade e com o espectado».
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