quinta-feira, 3 de julho de 2025

NO MUSEU DO ALJUBE | «As portas que Abril abriu nas paredes que Adélia amou» | «TESTEMUNHO DE EMOTIVA LIBERDADE» DIZ NUNO PACHECO NO JORNAL PÚBLICO

 




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Sobre a Exposição no jornal Público,
 artigo de Nuno Pacheco: 

«As portas que Abril abriu nas paredes que Adélia amou _ O Museu do Aljube mostra-nos uma série de originalíssimos ensaios fotográficos de Adélia da Fonseca-Riès (1946-2020) a partir de pinturas murais no pós-25 de Abril». no online aqui.


Excertos: «(...) Neste contexto, não sendo um “olhar de fora” (até porque a autora nasceu em Lisboa, de pais portugueses) mas marcado por um comprovado cosmopolitismo, foi inaugurada no dia 26 de Junho no Museu do Aljube uma exposição invulgar: fotografias captadas a partir de pinturas murais, mas não do modo a que nos habituámos a vê-las, na íntegra e até com identificação do local. Estas, porém, sob o título O Grito de Abril, mostram-nos olhares, rostos, gestos, que no todo da pintura original se perdem, mas aqui (sem reenquadramentos posteriores) ganham a força de um testemunho de emotiva liberdade.

(...) Quem foi Adélia da Fonseca-Riès? Uma portuguesa que correu mundo. Embora nascida em Lisboa, em 24 de Fevereiro de 1946, foi viver para África com menos de um ano, quando a mãe se juntou ao pai no antigo Congo Belga, onde ele dirigia uma empresa de óleo de palma. E aí ficou até aos 14 anos, aprendendo não só línguas africanas (kikongo e lingala), como português, neerlandês (flamengo) e francês, vindo a juntar a estas, mais tarde, o inglês, o castelhano, o italiano e o japonês, língua em que concluiu uma licenciatura.
Mas Adélia não se demorou por aí: em 1973, abominando os ares da ditadura, rumou a Paris, “que passou a ser o centro da sua vida nos seguintes quarenta anos”, como reza a sua biografia publicada no catálogo da exposição O Grito de Abril. Foi em Paris que conheceu, em Abril de 1978, o jornalista francês Philippe Riès, com quem viria a casar nesse ano, em Lisboa; a mesma Lisboa onde as paredes de Abril lhe suscitaram as fotografias agora expostas, “lendo” à sua maneira o que largas dezenas de murais ali espelhavam: uma afirmação de liberdade. Em seguida, mais voltas ao mundo: Tóquio, Paris, Hong Kong, Tóquio de novo, outra vez Paris e depois Bruxelas, até que o casal se mudou para uma casa do século XVI em Castelo de Vide, comprada e restaurada em 1997, e onde Adélia viria a morrer, a 1 de Setembro de 2020.
Agora, vendo como Adélia retratou o que as paredes reflectiam das “portas que Abril abriu” (assim enaltecia Ary dos Santos os “novos tempos”), podemos confirmar nessas leituras o cosmopolitismo da autora, a par de um humanismo e um amor inabalável pela liberdade».


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