domingo, 27 de julho de 2025

SOBRE «OS MAIS VELHOS» | é a Newsletter mais recente de «a beleza das pequenas coisas» do Expresso | O AUTOR É BERNARDO MENDONÇA

 


Recentemente «os mais velhos» tem sido objeto de atenção na comunicação social. É também o tema da newsletter do Expresso da imagem. É uma pena ser «exclusiva» porque a nosso ver desenvolve reflexão que nem sempre está presente o quanto devia: Excertos:

«Começo esta minha newsletter com uma frase que me atravessou há uns anos o peito, e que continua alojada na minha cabeça, desde que a escritora e amiga Dulce Maria Cardoso me alertou para a armadilha em que a maioria da sociedade contemporânea caiu:

“Não tratamos bem os mais velhos, o que diz muito de nós enquanto sociedade. Somos uns ingratos, ambiciosos e tontos.”

Como muitas pessoas saberão, já que Dulce o partilhou publicamente, a doença da sua mãe trocou-lhe as voltas e os planos, e levou-a a adiar a escrita da sequela do livro “Eliete”, um dos seus mais brilhantes romances, um caso sério de popularidade, aclamado pela crítica e pelos leitores, que venceu o Prémio Oceanos em 2019 e foi finalista do Prémio Femina.

Dulce escolheu, junto da sua família, estar mais próximo da sua mãe e dedicar-lhe mais tempo, carinho e cuidado, nos últimos anos de vida.

Decidiu ser um abraço mais presente e manter a progenitora na sua casa. Investiu nisso, mudou de morada, procurou ajuda especializada, e não hesitou em adiar projetos e contrariar as demandas e pressões do mercado literário.

Decisões valiosas

Fé-lo porque podia, claro. Mas tal decisão é tão humana e valiosa num mundo que nos faz crer que os velhos são estorvos (porque já não trabalham e são mais dependentes) e o que mais importa nesta vida é o dinheiro, o sucesso profissional, os bens materiais e o aparecer e aparentar a perfeição e a juventude nas redes sociais. Uma treta do capitalismo que importa contrariar e desmontar.

Já agora, embirro com a expressão “idoso”. Vou tentar escapar a ela neste texto.

Gosto muito da palavra “mayor” que os espanhóis usam para se referirem aos mais velhos. Pessoas maiores em experiência de vida e em sabedoria. E que merecem o nosso carinho, atenção e respeito.

Não tenho a mínima dúvida de que na maioria dos casos as famílias recorrem aos lares, porque não têm outra forma de amparar e cuidar dos seus mais velhos. E sei que há nessas famílias dor e culpa por essa decisão, para a qual não encontram alternativa. Tenho um caso assim na minha família.

As vidas profissionais e pessoais da maioria das pessoas são muito desafiantes, a somar ao facto de que os valores necessários para se ter cuidadores especializados no domicílio, 24h sobre 24h, para alguém que precise desses serviços em permanência, são totalmente incomportáveis, mesmo para a classe média.(...)Mas nem sempre os residentes dos lares estão em boas mãos.
E, nessa fase mais vulnerável da vida, as pessoas ‘mayores’ não têm condições para se defenderem de maus tratos e negligência de terceiros.
A escritora Lídia Jorge escreveu sobre este tema inquietante e perturbador, do fim de vida nos lares, no seu sublime “Misericórdia”, pela D. Quixote, vencedor do Prémio Médicis, um dos mais prestigiados da Europa.
Um livro que é um sismo que faz ruir preconceitos, idadismos e corações empedernidos, e que nos dá esperança para o último capítulo de uma vida. Leiam-no se ainda não o fizeram.
Mas, como toda a boa literatura faz, coloca o dedo nas feridas e é também denúncia e voz crítica às tantas violências, grandes e pequenas, e outras perversidades e abandonos que os mais velhos sofrem.
O cardeal e poeta Tolentino Mendonça referiu-se a este livro de Lídia como “um grito que precisa de ser escutado, porque as sociedades têm de se reconciliar com a velhice.” (...)».

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Bom ambiente para voltarmos ao livro «Misericórdia»:


«Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores
Prémio Urbano Tavares Rodrigues
Prémio do PEN Clube Português
Prémio Fernando Namora
Prémio Médicis


Misericórdia é um dos livros mais audaciosos da literatura portuguesa dos últimos tempos. Como a autora consegue que ele seja ao mesmo tempo brutal e esperançoso, irónico e amável, misto de choro e riso, é uma verdadeira proeza.
Não são necessárias muitas palavras para apresentá-lo - o diário do último ano de vida de uma mulher incorpora no seu relato o fulgor das existências cruzadas num ambiente concentracionário, e transforma-se no testemunho admirável da condição humana.
Isso acontece porque o milagre da literatura está presente. Nos tempos que correm, depois do enfrentamento global de provas tão decisivas para a Humanidade, esperávamos por um livro assim. Lídia Jorge escreveu-o». Saiba mais.

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