quarta-feira, 4 de março de 2020

ARTIGO DE ANTÓNIO GUTERRES | «A desigualdade de poder entre os gêneros»


Transcrição

«A desigualdade de gênero é a grande injustiça de nossa época e o maior desafio de direitos humanos que enfrentamos. Mas a igualdade de gênero oferece soluções para alguns dos problemas mais intratáveis de nossos tempos.
Em todos os lugares, as mulheres estão em situação pior do que os homens – simplesmente porque são mulheres. A realidade para mulheres de minorias, mulheres idosas, pessoas com deficiência e mulheres migrantes e refugiadas é ainda pior.
Embora tenhamos visto um enorme progresso nos direitos das mulheres nas últimas décadas, desde a abolição de leis discriminatórias até o aumento do número de meninas na escola, agora enfrentamos um forte retrocesso.
As proteções legais contra estupro e abuso doméstico estão sendo retiradas em alguns países, enquanto políticas que penalizam as mulheres, da austeridade à reprodução coercitiva, foram introduzidas em outros lugares. Os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão ameaçados por todos os lados.
Tudo isso porque a igualdade de gênero é fundamentalmente uma questão de poder. Séculos de discriminação e patriarcado profundamente arraigados criaram uma desigualdade de poder entre os gêneros em nossas economias, sistemas políticos e corporações. A evidência está em todo lugar.
As mulheres ainda são excluídas do alto escalão, de governos a conselhos corporativos e premiações de prestígio. Mulheres líderes e figuras públicas enfrentam assédio, ameaças e abuso, na Internet ou fora dela. A disparidade salarial entre homens e mulheres é apenas um sintoma da desigualdade de poder entre os gêneros.
Mesmo os dados supostamente neutros que fundamentam a tomada de decisões em temas como planejamento urbano e teste de drogas geralmente se baseiam em um “padrão masculino”; os homens são vistos como padrão, enquanto as mulheres são uma exceção.
Mulheres e meninas também enfrentam séculos de misoginia e o apagamento de suas realizações. Elas são ridicularizadas como histéricas ou hormonais; são rotineiramente julgadas por sua aparência; estão sujeitas a infinitos mitos e tabus sobre suas funções corporais naturais; elas são confrontadas, todos os dias, com o machismo, o ‘mansplaining’ e a culpabilização das vítimas.
Isso afeta profundamente a todos nós e é uma barreira para solucionar muitos dos desafios e ameaças que enfrentamos.
Tome como exemplo a desigualdade. As mulheres ganham 77 centavos por cada dólar ganho pelos homens. A pesquisa mais recente do Fórum Econômico Mundial diz que serão necessários 257 anos para fechar essa lacuna. Enquanto isso, mulheres e meninas fazem cerca de 12 bilhões de horas de trabalho não remunerado todos os dias, o que simplesmente não é levado em conta na tomada de decisões econômicas. (...)». Continue a ler.


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