«Documentário de Abílio Leitão sobre a vida e obra de Fiama Hasse Pais Brandão, considerada uma das mais importantes poetas do movimento Poesia 61 que revolucionou a poesia nos anos 60
O documentário Abílio Leitão aborda a vida e obra de Fiama Hasse Pais Brandão escritora, poetisa, dramaturga e tradutora, considerada uma das mais importantes poetas do movimento Poesia 61 que revolucionou a poesia nos anos 60. Fiama foi distinguida por duas vezes com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1996 e 2000) e pelo prémio do P.E.N. Clube Português, em 2001.
A par da poesia, o teatro ocupa um lugar central na produção literária de Fiama sendo autora de várias peças de teatro. Em 1961 recebe o Prémio Revelação de Teatro pela obra Os Chapéus de Chuva. Em 1974 é um dos fundadores do Grupo Teatro Hoje, companhia que deu a conhecer ao público português alguns dos nomes mais importantes da dramaturgia contemporânea.
Mas é na poesia que ganha um lugar indiscutível na Literatura Portuguesa, tendo deixado uma obra vasta e marcante, que ainda hoje suscita inúmeros estudos e teses universitárias.
O documentário ensaia pistas de leitura sobre este legado literário a ser redescoberto pelos leitores atuais».
* *
Boa ocasião para visitarmos de imediato
poesia da Fiama:
no interior do corpo. Porque ele passa
com um rumor nas pedras que nos cobrem,
e pelo sonoro desalinho de algumas árvores
que são os nossos cabelos imaginários.
Até nas íris dos olhos o tempo
faz estalar faíscas de luz breve.
Só no interior sem nome do nosso corpo
ou esfera húmida de algum astro
ignoto, numa órbita apartada,
o tempo caladamente persegue
o sangue que se esvai sem som.
Entre o princípio e o fim vem corroer
as vísceras, que ocultamos como a Terra.
Trilam os lábios nossos, à semelhança
das musicais manhãs dos pássaros.
Mesmo os ouvidos cantam até à noite
ouvindo o amor de cada dia.
A pele escorre pelo corpo, com o seu correr
de água, e as lágrimas da angústia
são estridentes quando buscam o eco.
Mas não sentimos dentro do coração que somos
filhos dilectos do tempo e que, se hoje amamos,
foi depois de termos amado ontem.
O tempo é silencioso e enigmático
imerso no denso calor do ventre.
Guardado no silêncio mais espesso,
o tempo faz e desfaz a vida.
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