AS CRÓNICAS BIOGRÁFICAS DE UMA GRANDE FICCIONISTA
Autobiografia não Autorizada é de uma intimidade sem precedentes na obra da autora: pessoais, memorialísticas, transparentes, e tão depuradas que se tornam universais, as crónicas de Dulce Maria Cardoso abrem lugar para cada um de nós. Como uma poltrona que «é moldada, dia após dia, pelo peso de um corpo, transformando‑se no seu ninho».
«Uma autobiografia é uma missão impossível. Deveria escrever um texto rigoroso, só que sou sempre personagem de mim própria, mesmo que narre tudo na primeira pessoa e me apelide Dulce, como se não estivesse a inventar‑me. Escrever é pensar devagar. A lentidão tanto leveda ou germina quanto mirra ou apodrece. E depois existe o outro lado: vós, os que estais aí. Enquanto leitora de ficção procuro inevitavelmente o autor no seu texto. Que verdade esconde o autor na mentira que conta? Uma autobiografia funciona um pouco ao contrário: que mentira esconde o autor na verdade que revela?
Na minha cabeça, a minha vida é um puzzle desmanchado. De tempos a tempos, pego numa peça e detenho‑me a olhá‑la. A pergunta que deveria espicaçar‑me, Onde é que isto se encaixa?, raramente me ocorre. Sempre fui uma má jogadora e sei que há peças perdidas. Também não conheço a imagem que deveria criar com as peças todas. Miro e remiro cada peça a que lanço mão como se estivesse perante o puzzle completo. A determinada altura, coloco‑a sobre a secretária já repleta de outras peças espalhadas.»
— D.M.C
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