ADEUS PÁTRIA E FAMÍLIA
28 DE JUNHO DE 2022 A 29 DE JANEIRO DE 2023
ADEUS PÁTRIA E FAMÍLIA aborda as dinâmicas e tensões entre a repressão e as
resistências de diversidade sexual e de género durante a ditadura e após a
Revolução. Esta exposição tenta compreender como essa tensão condicionou a vida
quotidiana e perpetuou práticas e discursos opressivos e discriminatórios,
marcando a sociedade portuguesa até à atualidade.
Convida-se à reflexão sobre as construções, desconstruções e reconstruções do
conceito de género e o caminho ainda, e sempre, necessário para construir uma
sociedade democrática.
Neste ano em que celebramos,
pela primeira vez na nossa história, mais dias vividos em liberdade do que em
ditadura, celebramos também os 40 anos da descriminalização da homossexualidade
e quatro anos desde a consagração legal da autodeterminação de género. Estes
avanços são inseparáveis de décadas de resistência, coragem, mobilização,
solidariedade e enfrentamento do medo.
Revelar, nomear, reconhecer,
representar e visibilizar é desconstruir preconceitos, combater violências,
educar para os direitos humanos.
Todo o caminho feito até aqui inspira-nos a continuar a luta pela dignidade da
pessoa humana, homenageando todos/as/es que foram perseguidos/as/es,
criminalizados/as/es, patologizados/as/es, colonizados/as/es, humilhados/as/es
e oprimidos/as/es, assumindo o nosso compromisso na defesa dos ideais e valores
da liberdade e da democracia.
CURADORIA • Rita Rato e Joana Alves
DESENHO DE EXPOSIÇÃO • Ricardo Carvalho Arquitectos & Associados
Visita a exposição!
TER – DOM • 10H – 18H • ENTRADA LIVRE
************************************
E do trabalho no semanário Expresso desta semana sobre a exposição:
A exposição “Adeus Pátria e Família” celebra os primeiros 40 anos da descriminalização da homossexualidade em Portugal, reconhecendo o caminho de resistência até à conquista de direitos
TEXTO CRISTINA MARGATO
Em 1926, e num discurso que estabelecia o “conforto das grandes certezas”, Salazar afirmou a indiscutibilidade de “Deus” e “da virtude”, da “família e da sua moral”, “da autoridade e do seu prestígio”. De uma só vez, num texto com pouco mais de 50 palavras, o ditador lançou a semente da trindade “Deus, Pátria e Família” que definiria o seu longo regime. Quase 100 anos depois desse discurso, proferido em Braga, a 28 de maio de 1926, Portugal tem uma das legislações mais avançadas do mundo em matéria de igualdade e de não descriminação com base na orientação sexual e na afirmação de género. Mas destes 100 anos, apenas 40 — muitos menos do que os da democracia — foram, de facto, vividos sem descriminalização da homossexualidade; e apenas quatro com consagração legal de autodeterminação de género. A batalha contra a repressão tem sido longa e difícil, e não está acabada, mesmo em democracia, porque a experiência da vida quotidiana nem sempre respeita as regras estabelecidas na legislação.
Defender um modelo de família diferente do modelo católico, patriarcal, com o poder concentrado na figura masculina, que a ditadura impôs, e uma existência que se afirme fora dos ditames da heteronormatividade exige um esforço que está para lá das leis. Uma mudança de mentalidades, para a qual a exposição “Adeus Pátria e Família” quer contribuir ao traçar o percurso que nos trouxe aqui. “Revelar, nomear e dar visibilidade” a esta longa batalha contra um modelo único e opressor é um dos objetivos das curadoras, Rita Rato, diretora do Museu do Aljube, e Joana Alves, do departamento da comunicação. Três verbos que pretendem facilitar a reflexão e promover a discussão na sociedade e nas suas pequenas esferas, como a pessoal, a familiar ou a profissional. Na exposição que pode ser vista no Museu do Aljube, o desenho de Ricardo Carvalho recorre a um único dispositivo para suporte dos documentos apresentados de forma cronológica e linear, a um tecido de cortinado que significa a tensão entre a ocultação e a visibilidade dos que fogem à heteronormatividade, dos que querem escolher corresponder ao que são.
A viagem que “Adeus Pátria e Família” nos propõe começa nesse texto fundador da máquina de repressão do regime fascista, “A Lição de Salazar”, e termina num mapa mundial, no qual Portugal se destaca pela positiva, ao oferecer a mais avançada proteção, em matéria legislativa. Este caminho, feito de avanços e recuos, sistematizado pela exposição, mostra-nos a constituição desse aparelho repressivo, não apenas o de Estado, mas também da própria ciência.
Logo depois de exibir “A Lição de Salazar”, a exposição recorda o facto de Egas Moniz, Nobel da Medicina, ter considerado a homossexualidade uma doença, “tratável como qualquer outra”, “um vício contra a natureza”, incluindo e destacando passagens de “A Vida Sexual — Pathologia”. Lembra ainda a consequente institucionalização destes “doentes” em locais como o Albergue da Mitra, em Lisboa, ou a Quinta do Pisão, em Cascais. (...)».