Festival de Berlim: João Canijo venceu este sábado o Prémio do Júri. “Mal Viver”/“Viver Mal” é um díptico assombrado pela maternidade
De lá estes excertos: « (...)Para esse hotel vai “Mal Viver” inventar um historial, uma família que foi passando o negócio de geração em geração. É uma família de mulheres. Quem pela primeira vez aparece em grande plano é Piedade, papel de Anabela Moreira. Ali vive e trabalha com a mãe Sara (Rita Blanco), que herdou a propriedade dos pais, a irmã Raquel (Cleia Almeida) e a prima Ângela, que tem a cozinha a seu cargo (Vera Barreto). (...).Para onde foi a sensualidade daquelas mulheres é coisa que os espelhos não dirão. A sensualidade ficou arrumada numas quantas dúzias de caixas de sapatos de salto alto que nunca mais foram usados e que já não servem a ninguém. Um dia contará talvez João Canijo porque há e porque filmou ele tantos pés nestes filmes. É uma recorrência, quando os corpos das mulheres se deitam, a descansar. Pernas e pés. Isto é muito japonês. A Nouvelle Vague sabia-o. Mas também Tarantino tem queda para o mesmo, quem conhece Tarantino como deve ser sabe do que estou a falar. Há mesmo personagens, como Alice e Júlia de “Viver Mal”, jovens namoradas (a homossexualidade é outra novidade nesta obra), que nos são apresentadas pelos pés antes dos rostos chegarem ao ecrã. Nada mau, nem elegância falta aqui ao cineasta que um dia realizou um filme chamado “Sapatos Pretos”. (...)»
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