«VÊ SE A PRIMAVERA JÁ CHEGOU. Maria Helena e Óscar Lopes: cartas da prisão
"Vê
se a Primavera já chegou às árvores do quintal. Em mim, é Primavera
constantemente: basta viver e viverem pessoas como tu." [carta de Óscar Lopes a Maria Helena, 15-03-1955]
70 anos após a detenção de Óscar Lopes pela PIDE, no âmbito do "Processo dos 52" envolvendo o MUD Juvenil do Porto, Manuela Espírito Santo, em mais um trabalho rigoroso e oportuno, dá a conhecer a sua correspondência de prisão com a mulher, Maria Helena, e os filhos, preservada "a seu pedido", "para ficarem com uma recordação desses amargos dias".
São transcritos 52 postais e cartas do preso político Óscar Lopes para a mulher e uma carta dirigida aos filhos e 27 endossadas ao escritor e professor, produzidas entre 15 de março e 15 de julho de 1955, quando foi libertado sob caução, totalizando 80 documentos inéditos.
Editado, em dezembro de 2024, pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, é um livro belíssimo e imperdível, tanto pela contextualização do que foi o fascismo em Portugal, como por ajudar "a compor um retrato pouco conhecido do linguista: o marido, o pai, o filho, o amante da natureza, das flores e das plantas do jardim, dos gatos, o trabalhador incansável."
São transcritos 52 postais e cartas do preso político Óscar Lopes para a mulher e uma carta dirigida aos filhos e 27 endossadas ao escritor e professor, produzidas entre 15 de março e 15 de julho de 1955, quando foi libertado sob caução, totalizando 80 documentos inéditos.
Editado, em dezembro de 2024, pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, é um livro belíssimo e imperdível, tanto pela contextualização do que foi o fascismo em Portugal, como por ajudar "a compor um retrato pouco conhecido do linguista: o marido, o pai, o filho, o amante da natureza, das flores e das plantas do jardim, dos gatos, o trabalhador incansável."
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Entretanto no Museu do Aljube:
Apresentação do livro “Vê se a Primavera já chegou”
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e do belo texto de Domingos Lobo no jornal Avante! desta semana:
« ( ...) Óscar Lopes foi preso em sua casa, pela PIDE, a 12
de Março de 1955 e solto a 15 de Setembro desse mesmo ano, vitima do vergonhoso
processo dos 52, que Francisco Duarte Mangas verteu para esse romance de referência
que é Jacarandá. A primeira carta de Óscar Lopes para a esposa,
data de 15 de Março. Ou seja, três dias após a sua prisão. As cartas do autor de Cifras do Tempo, são missivas de amor intenso, febris e arrebatadas,
mas não esquecem, nessa torrente sensitiva, as pequenas coisas do real quotidiano: Não esqueça o pagamento da
Taxa Militar, 50$00, na secção de Finanças, não sei bem se este mês ou em
Abril. Estou rijo de saúde. Tenho-vos sempre no coração: para mim terás sempre
17 anos e a mãe 30. Vê se a Primavera já chegou às árvores do quintal. Em
mim é Primavera constantemente: basta viver e viverem pessoas como tu.
Helena e Óscar não ignoravam a censura que a
PIDE exercia sobre a correspondência e, desse modo, tentavam que os conteúdos
se mantivessem dentro de parâmetros possíveis, impedindo a sonegação
do diálogo epistolar entre os cônjuges. Enquanto as cartas de Maria Helena
se limitam a relatar episódios do quotidiano da família, as notas dos filhos,
o seu aproveitamento escolar, ou ligeiras falhas nesse percurso, a escassez
de recursos económicos, as questões sobre os editores e o pagamento de
direitos, as crónicas para o Comércio do Porto e as repercussões que
esses textos teriam, ou não, nas elites do Porto; Óscar fala da família com
arrebatamento e de Helena com paixão, por vezes admoestando-a para a necessidade
de tomar os medicamentos, não te deixes abater, não deixando, de referir o
seu contínuo trabalho de crítico e tradutor (mesmo quando os textos a traduzir
lhe não eram estimulantes), derivando, por vezes, para leituras mais apelativas: Estou
a trabalhar mais devagar porque o livro do Tolstoi é empolgante. Só encontro
paralelo em Goethe; reli já boa parte da «Síbila».1 Leria
Tolstoi com muito mais apetite; Maria Helena, eu não sou um rato de biblioteca
[…] sou integralmente humano, e tenho-te a ti e aos nossos filhos em tudo
o que sou e faço.
Vê Se a
Primavera Já Chegou, é mais um dos grandes e indispensáveis livros, cuidadosamente
editados pela AJHLP. A ler, como é evidente.
1 Romance de Agustina Bessa Luís»
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