quarta-feira, 5 de março de 2025

MARIA HELENA E ÓSCAR LOPES |«VÊ SE A PRIMAVERA JÁ CHEGOU»|«é um livro belíssimo e imperdível, tanto pela contextualização do que foi o fascismo em Portugal, como por ajudar "a compor um retrato pouco conhecido do linguista: o marido, o pai, o filho, o amante da natureza, das flores e das plantas do jardim, dos gatos, o trabalhador incansável." | VAI SER APRESENTADO NO DIA 12 MAR 2025 _ 18:00 _ NO MUSEU DO ALJUBE _ LISBOA


 

 
 «VÊ SE A PRIMAVERA JÁ CHEGOU. Maria Helena e Óscar Lopes: cartas da prisão
"Vê se a Primavera já chegou às árvores do quintal. Em mim, é Primavera constantemente: basta viver e viverem pessoas como tu." [carta de Óscar Lopes a Maria Helena, 15-03-1955]
70 anos após a detenção de Óscar Lopes pela PIDE, no âmbito do "Processo dos 52" envolvendo o MUD Juvenil do Porto, Manuela Espírito Santo, em mais um trabalho rigoroso e oportuno, dá a conhecer a sua correspondência de prisão com a mulher, Maria Helena, e os filhos, preservada "a seu pedido", "para ficarem com uma recordação desses amargos dias".
São transcritos 52 postais e cartas do preso político Óscar Lopes para a mulher e uma carta dirigida aos filhos e 27 endossadas ao escritor e professor, produzidas entre 15 de março e 15 de julho de 1955, quando foi libertado sob caução, totalizando 80 documentos inéditos.
Editado, em dezembro de 2024, pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, é um livro belíssimo e imperdível, tanto pela contextualização do que foi o fascismo em Portugal, como por ajudar "a compor um retrato pouco conhecido do linguista: o marido, o pai, o filho, o amante da natureza, das flores e das plantas do jardim, dos gatos, o trabalhador incansável."

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Entretanto no Museu do Aljube:


Apresentação do livro “Vê se a Primavera já chegou”

12 de Março de 2025 - 18h00
AUDITÓRIO DO MUSEU DO ALJUBE

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e do belo texto de Domingos Lobo no jornal Avante! desta semana:



« ( ...) Óscar Lopes foi preso em sua casa, pela PIDE, a 12 de Março de 1955 e solto a 15 de Se­tembro desse mesmo ano, vi­tima do ver­go­nhoso pro­cesso dos 52, que Fran­cisco Du­arte Mangas verteu para esse ro­mance de re­fe­rência que é Ja­ca­randá. A pri­meira carta de Óscar Lopes para a es­posa, data de 15 de Março. Ou seja, três dias após a sua prisão. As cartas do autor de Ci­fras do Tempo, são mis­sivas de amor in­tenso, fe­bris e ar­re­ba­tadas, mas não es­quecem, nessa tor­rente sen­si­tiva, as pe­quenas coisas do real quo­ti­diano: Não es­queça o pa­ga­mento da Taxa Mi­litar, 50$00, na secção de Fi­nanças, não sei bem se este mês ou em Abril. Estou rijo de saúde. Tenho-vos sempre no co­ração: para mim terás sempre 17 anos e a mãe 30. Vê se a Pri­ma­vera já chegou às ár­vores do quintal. Em mim é Pri­ma­vera cons­tan­te­mente: basta viver e vi­verem pes­soas como tu.
He­lena e Óscar não ig­no­ravam a cen­sura que a PIDE exercia sobre a cor­res­pon­dência e, desse modo, ten­tavam que os con­teúdos se man­ti­vessem dentro de pa­râ­me­tros pos­sí­veis, im­pe­dindo a so­ne­gação do diá­logo epis­tolar entre os côn­juges. En­quanto as cartas de Maria He­lena se li­mitam a re­latar epi­só­dios do quo­ti­diano da fa­mília, as notas dos fi­lhos, o seu apro­vei­ta­mento es­colar, ou li­geiras fa­lhas nesse per­curso, a es­cassez de re­cursos eco­nó­micos, as ques­tões sobre os edi­tores e o pa­ga­mento de di­reitos, as cró­nicas para o Co­mércio do Porto e as re­per­cus­sões que esses textos te­riam, ou não, nas elites do Porto; Óscar fala da fa­mília com ar­re­ba­ta­mento e de He­lena com paixão, por vezes ad­mo­es­tando-a para a ne­ces­si­dade de tomar os me­di­ca­mentos, não te deixes abater, não dei­xando, de re­ferir o seu con­tínuo tra­balho de crí­tico e tra­dutor (mesmo quando os textos a tra­duzir lhe não eram es­ti­mu­lantes), de­ri­vando, por vezes, para lei­turas mais ape­la­tivas: Estou a tra­ba­lhar mais de­vagar porque o livro do Tolstoi é em­pol­gante. Só en­contro pa­ra­lelo em Go­ethe; reli já boa parte da «Sí­bila».1 Leria Tolstoi com muito mais ape­tite; Maria He­lena, eu não sou um rato de bi­bli­o­teca […] sou in­te­gral­mente hu­mano, e tenho-te a ti e aos nossos fi­lhos em tudo o que sou e faço.
Vê Se a Pri­ma­vera Já Chegou, é mais um dos grandes e in­dis­pen­sá­veis li­vros, cui­da­do­sa­mente edi­tados pela AJHLP. A ler, como é evi­dente.
 
1 Ro­mance de Agus­tina Bessa Luís»
 


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