no caderno IDEIAS do semanário Expresso de 25 FEV 2025
O artigo ficou-nos na cabeça. E voltamos a ele. Parece-nos um verdadeiro «programa» para agora serenamente discutirmos o movimento. Li livros e opiniões sobre o assunto, alguns divulgados aqui no Em Cada Rosto Igualdade. Na comunicação social pudemos seguir reportagens, talvez a maioria sobre algo que tinha sido «caso». Assisti a conversas, e sempre fiquei com a ideia que cada um/uma tinha concepções diferentes sobre os pontos de partida para o que estava em causa. Vem-me à memória a CONVERSA DA CERCA (que por acaso foi no Convento dos Capuchos) do Festival de Teatro de Almada do ano passado onde o assunto (o tema como agora se diz) dominou. O desacordo foi o tom, graças a Deus. Lembro que havia presentes que nem sabiam o que era aquilo de «wokismo». Cá para mim, muito prosaica, sempre me aproximei da matéria pelo lado profissional: de facto, o conceito nas suas diferentes declinações lá está na esfera da gestão, em termos conceptuais e práticos, à luz do paradigma DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. E tem expressão em Relatórios de empresas de referência - mesmo que a palavra nem apareça. Sim, houve exageros, e aponta-se por exemplo o «ME TOO», e não se lembra, ilustrando também, a IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES que caminha a passo de caracol em tantas manifestações da vida. De repente, as «vozes do silêncio», e por isso o artigo acima merece ser notado e aproveitado, Ainda por cima atravessado pelo humor ao jeito do autor. Começa assim:
«Aparentemente, o wokismo, que ia controlar as nossas mentes e fazer de nós seres temerosos de pronunciar o verbo sem que a mão da inquisição moralista dos radicais de esquerda nos queimasse nas redes sociais, desmoronou-se. Sim, a frase está longa. Mas é isto: o wokismo acabou com uma mera assinatura de marcador de Trump. Quem diz o wokismo diz o tal DEI (programa de recrutamento de diversidade e inclusão), a imposição da Teoria Crítica da Raça, o pânico de acordar vítima da cultura de cancelamento ou de ter cometido um crime de “apropriamento cultural”. Tudo o que se tinha agregado no albergue geral da “guerra cultural”. A temida investida da turba moralista, elitista, ditatorial da esquerda progressista e que a direita populista trumpista está a substituir por um “wokismo de direita” (este termo foi recentemente apresentado pela revista “The Atlantic”). Wokismo que — vamos ser sérios de uma vez por todas — Portugal nunca vivenciou. A não ser no Twitter/X e em guerras de teclado e acusações esparsas: “Isso é wokismo!”, ou “não me deixo intimidar pela cultura de cancelamento”, ou “dizer isso não é aceitável”. Uma ressalva: algumas coisas ditas woke já não são mesmo aceitáveis de se dizer. O que não tem nada que ver com ser woke. “É ter noção”, como se diz agora. Estamos enquadrados?
O wokismo, como muita coisa que degenerou, começou com boas intenções. Trump — um milionário misógino condenado por abuso sexual — convenceu parte de uma nação de que havia uma guerra contra os trabalhadores esquecidos e contra os homens brancos por parte das elites urbanas radicais do Partido Democrata. E, se calhar, havia. Não nos termos em que ele dizia. E essa opressão fazia-se pela linguagem. Eliminar a linguagem, os pressupostos que essa linguagem implicava, por exemplo na questão dos direitos, foi o que bastou para Trump ganhar a “guerra cultural”. Como muito do que está a acontecer nos EUA, não se vislumbrou qualquer #resistência. Nem nos afamados pronomes, nem nos direitos dos trans no desporto ou na polémica das casas de banho. Até Bernie Sanders, o “socialista democrata”, veio dizer que estava na hora de se largar a treta woke e virar de novo para as “pessoas comuns”. É que, sim, houve gente demonizada por usar um sombrero numa festa de tequila. Houve episódios absurdos em campus universitários ou ambientes urbanos “progressistas”. Visto daqui, do ponto de vista de leitor de jornal, o wokismo parecia uma máquina descontrolada de destruir reputações. Um gatafunho de Trump silenciou todo aquele poder de obliterar pessoas. Bizarro. (...)».
E termina deste modo:
«(...) O wokismo, com os tais abusos idiotas e incompreensíveis destes últimos anos, afinal terá sido a barreira conceptual para que EUA e Rússia não tivessem exatamente o mesmo discurso ideológico de domínio do homem branco e “valores morais não decadentes”. Nunca fui woke. Mas acho que a linguagem e a sociedade evoluem e os direitos humanos não são um asterisco. Mas isto que acabei de descrever, esta consonância discursiva, não pode ser um avanço nem uma vitória. É um retrocesso grunho. Podemos dizer que o woke morreu. O de esquerda. Agora está aí outra coisa. Não sei se lhe querem chamar “woke de direita”. Acho curto».
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Allô CIG - Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género - e que tal desencadear um fórum para se refletir tudo isto? Serenamente, mas animado, onde não faltem confrontos ...
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