quarta-feira, 12 de março de 2025

TALVEZ AGORA SERENAMENTE DISCUTIR O «WOKISMO»| ocorreu-nos ao lermos o artigo «O wokismo morreu vítima de assinatura» de Luís Pedro Nunes no semanário Expresso

 

no caderno IDEIAS do semanário Expresso de 25 FEV 2025 


O artigo ficou-nos na cabeça. E voltamos a ele. Parece-nos um verdadeiro «programa» para agora serenamente discutirmos o movimento. Li livros e opiniões sobre o assunto, alguns divulgados aqui no Em Cada Rosto Igualdade. Na comunicação social pudemos seguir reportagens, talvez a maioria sobre algo que tinha sido «caso». Assisti a conversas, e sempre fiquei com a ideia que cada um/uma tinha concepções diferentes sobre os pontos de partida para o que estava em causa. Vem-me à memória a CONVERSA DA CERCA  (que por acaso foi no Convento dos Capuchos) do Festival de Teatro de Almada do ano passado onde o assunto (o tema como agora se diz) dominou. O desacordo foi o tom, graças a Deus. Lembro que havia presentes que nem sabiam o que era aquilo de «wokismo». Cá para mim, muito prosaica, sempre me aproximei da matéria pelo lado profissional: de facto, o conceito nas suas diferentes declinações lá está na esfera da gestão, em termos conceptuais e práticos, à luz do paradigma DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. E tem expressão em Relatórios de empresas de referência - mesmo que a palavra nem apareça. Sim, houve exageros, e aponta-se por exemplo o «ME TOO», e não se lembra, ilustrando também, a IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES que caminha a passo de caracol em tantas manifestações da vida. De repente, as «vozes do silêncio», e por isso o artigo acima merece ser notado e aproveitado, Ainda por cima atravessado pelo humor ao jeito do autor. Começa assim:

«Aparentemente, o wokismo, que ia controlar as nossas mentes e fazer de nós seres temerosos de pronunciar o verbo sem que a mão da inquisição moralista dos radicais de esquerda nos queimasse nas redes sociais, desmoronou-se. Sim, a frase está longa. Mas é isto: o wokismo acabou com uma mera assinatura de marcador de Trump. Quem diz o wokismo diz o tal DEI (programa de recrutamento de diversidade e inclusão), a imposição da Teoria Crítica da Raça, o pânico de acordar vítima da cultura de cancelamento ou de ter cometido um crime de “apropriamento cultural”. Tudo o que se tinha agregado no albergue geral da “guerra cultural”. A temida investida da turba moralista, elitista, ditatorial da esquerda progressista e que a direita populista trumpista está a substituir por um “wokismo de direita” (este termo foi recentemente apresentado pela revista “The Atlantic”). Wokismo que — vamos ser sérios de uma vez por todas — Portugal nunca vivenciou. A não ser no Twitter/X e em guerras de teclado e acusações esparsas: “Isso é wokismo!”, ou “não me deixo intimidar pela cultura de cancelamento”, ou “dizer isso não é aceitável”. Uma ressalva: algumas coisas ditas woke já não são mesmo aceitáveis de se dizer. O que não tem nada que ver com ser woke. “É ter noção”, como se diz agora. Estamos enquadrados?

O wokismo, como muita coisa que degenerou, começou com boas intenções. Trump — um milionário misógino condenado por abuso sexual — convenceu parte de uma nação de que havia uma guerra contra os trabalhadores esquecidos e contra os homens brancos por parte das elites urbanas radicais do Partido Democrata. E, se calhar, havia. Não nos termos em que ele dizia. E essa opressão fazia-se pela linguagem. Eliminar a linguagem, os pressupostos que essa linguagem implicava, por exemplo na questão dos direitos, foi o que bastou para Trump ganhar a “guerra cultural”. Como muito do que está a acontecer nos EUA, não se vislumbrou qualquer #resistência. Nem nos afamados pronomes, nem nos direitos dos trans no desporto ou na polémica das casas de banho. Até Bernie Sanders, o “socialista democrata”, veio dizer que estava na hora de se largar a treta woke e virar de novo para as “pessoas comuns”. É que, sim, houve gente demonizada por usar um sombrero numa festa de tequila. Houve episódios absurdos em campus universitários ou ambien­tes urbanos “progressistas”. Visto daqui, do ponto de vista de leitor de jornal, o wokismo parecia uma máquina descontrolada de destruir reputações. Um gatafunho de Trump silenciou todo aquele poder de obliterar pessoas. Bizarro. (...)».
E termina deste modo:
«(...) O wokismo, com os tais abusos idiotas e incompreen­síveis destes últimos anos, afinal terá sido a barreira conceptual para que EUA e Rússia não tivessem exatamente o mesmo discurso ideo­lógico de domínio do homem branco e “valores morais não decadentes”. Nunca fui woke. Mas acho que a linguagem e a sociedade evoluem e os direitos humanos não são um asterisco. Mas isto que acabei de descrever, esta consonância discursiva, não pode ser um avanço nem uma vitória. É um retrocesso grunho. Podemos dizer que o woke morreu. O de esquerda. Agora está aí outra coisa. Não sei se lhe querem chamar “woke de direita”. Acho curto».
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Allô CIG - Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género - e que tal desencadear um fórum para se refletir tudo isto? Serenamente, mas  animado, onde não faltem confrontos ...

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