sexta-feira, 27 de outubro de 2023

«Morreu Margarida Tengarrinha, resistente antifascista e militante do PCP» | Participou no Congresso Mundial de Mulheres realizado em Copenhaga, em 1953, e em 1963 em Moscovo.

 

«Com 95 anos, morreu hoje Margarinha Tengarrinha, natural de Portimão, resistente antifascista e militante do PCP desde 1952.

A resistente antifascista e antiga deputada Margarida Tengarrinha morreu hoje aos 95 anos, anunciou o Partido Comunista Português (PCP), onde militava desde 1952.
«É com profundo pesar que o secretariado do Comité Central do PCP informa do falecimento de Maria Margarida Carmo Tengarrinha», adiantou o partido em comunicado.
Nascida em 7 de maio de 1928 em Portimão, Margarida Tengarrinha participou nas lutas estudantis de 1949 e 1954 em Lisboa, tendo sido membro da direção Universitária do MUD Juvenil.
Aderiu ao PCP com 24 anos, em 1952, e passou à clandestinidade em finais de 1954.
«A sua primeira tarefa foi então a criação, com José Dias Coelho (seu companheiro), da oficina de produção de documentos de identificação e outros necessários à intervenção clandestina do partido», refere o mesmo documento.
Em 1962, após o assassinato de José Dias Coelho, a militante do PCP foi para o exterior, tendo exercido tarefas na Rádio Portugal Livre e, em 1968, regressou a Portugal, tendo participado na redação do «Avante!» e do jornal «A Terra».
Membro do Comité Central do PCP desde maio de 1974 até 1988, após o 25 de Abril de 1974 Margarida Tengarrinha foi membro da direção da Organização Regional de Lisboa, integrou a Comissão para o Trabalho com os Pequenos e Médios Agricultores e a Comissão para a Reforma Agrária.
Desde 1986 a viver em Portimão, foi também deputada à Assembleia da República nas III e IV legislaturas.
Ao longo dos anos, Margarida Tengarrinha publicou diversos livros sobre pintura, cultura popular e sobre a sua experiência e intervenção enquanto funcionária do PCP.
«Margarida Tengarrinha teve uma vida inteiramente dedicada à luta e intervenção pela emancipação dos povos, pela democracia, o progresso social, a paz e o socialismo», salientou o PCP.
O corpo de Margarida Tengarrinha estará em câmara ardente na casa mortuária da Igreja do Colégio em Portimão no dia 31 de outubro, a partir das 09:30, saindo às 12h:30 para o Crematório de Albufeira». Tirado daqui.



Sinopse

«Éramos jovens e queríamos um mundo melhor, num Portugal onde grassava a miséria, dominado por um pequeno grupo de grandes financeiros, monopolistas e latifundiários. Éramos jovens e queríamos a liberdade, pois abafávamos num Portugal dominado por todos os medos: a censura omnipresente cortava notícias dos jornais, impedia peças de teatro, proibia a publicação de livros pela grelha estreita de um index tão feroz quanto o da velha Inquisição; a polícia política era uma sinistra aranha que, desde o covil das torturas na rua António Maria Cardoso em Lisboa e na rua do Heroísmo, no Porto, estendia a sua teia pelas cidades e aldeias, pelas fábricas e empresas, as escolas e os quarteis, alargando-se por uma rede de informadores e bufos que eram os seus olhos e ouvidos: a PIDE podia prender, torturar e matar impunemente e tinha ainda uma outra arma mais discreta e não menos eficaz, tirar o pão ao adversário. A muitos pode parecer longínquo e estrangeiro esse país em que eles - resistentes clandestinos e não clandestinos, militantes e amigos - tiveram que viver, e no qual escolheram lutar em condições que hoje nenhum de nós tem de suportar. "O passado é um país estrangeiro", escreveu L. P. Hartley, numa frase frequentemente citada a propósito da crescente incapacidade das sucessivas gerações em inscrever o passado nas suas vidas - e sobretudo os passados que, como os dos resistentes clandestinos comunistas, dificilmente encaixam nas narrativas hegemónicas sobre a origem da democracia, e sobretudo sobre como se a defende e pratica. Para que esse passado seja inscrito nas nossas vidas, não temos outro remédio senão o de nos empenharmos na luta pela memória da resistência. (…) Neste caso, Margarida Tengarrinha procura resgatar do esquecimento e homenagear as "pessoas que, com maior ou menor relevo, conduziram e estiveram no topo de momentos capitais da vida política, ou participaram neles de forma anónima, obscura, sem deixar os nomes gravados na história, mas cuja ação foi fundamental no derrubamento do fascismo".»
Do Prefácio de Manuel Loff

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