Estávamos à espera que «a poeira pousasse» para trazermos para aqui o caso da «linguagem inclusiva nas Forças Armadas» que tanto sururu causou em fins de setembro último. O artigo de post anterior avivou-nos o assunto que pensamos não deve ser metido na gaveta: há que discuti-lo, de mente aberta. Tínhamos também «guardadas» estas palavras do Ministro da Defesa:
Ainda este excerto do DN: «O ministro da Defesa considerou esta
sexta-feira que as questões da igualdade de género nas Forças Armadas "não
são um assunto menor" como "alguns podem pensar", pelo que não
podem ser tratadas apenas no campo político.
João Gomes Cravinho falava por videoconferência no seminário internacional
"Women, Peace and Security - 20 years of UNSC Resolution 1325",
organizada pelo Instituto de Defesa Nacional e pelo Gabinete da Igualdade do
ministério, para assinalar os 20 anos da Resolução 1325 do Conselho de Segurança
das Nações Unidas sobre 'Mulheres, Paz e Segurança'.
"As perspetivas de género são imensamente relevantes neste aspeto e
estão no centro do campo de ação das Forças Armadas. Não são um assunto menor a
distrair-nos da essência do nosso trabalho, como alguns podem pensar ou
sugerir", considerou o ministro.
Para o titular da Defesa, olhar para a igualdade de género como "uma
agenda imposta apenas por certas forças políticas e sociais" é "muito
perigoso", sendo a sua promoção "uma responsabilidade de todos".
"Não podemos ver a igualdade de género como um assunto político, é
simultaneamente um caso de direitos humanos, de eficácia operacional e um pilar
para sociedades mais resilientes", sustentou.
Cravinho apontou ainda que, "só fazendo destas preocupações uma parte
do ADN das Forças Armadas" é que serão feitas as mudanças necessárias,
afirmando acreditar que os militares podem ser um exemplo para a sociedade
portuguesa.(…)».
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O que vimos, ouvimos, e lemos, a propósito «do caso», levou-nos a alguma sistematização que de seguida registamos.
Desde logo, surpreendeu-nos o desconhecimento que captamos em vários momentos a propósito do assunto: em torno do aparato institucional sobre a(s) Igualdade(s); em termos de documentação bem como no que diz respeito aos aspetos organizativos sejam globais ou de cada setor. Concretizando, quantos saberão da CIG, das Equipas de Igualdade em cada Ministério, da Estratégia Nacional, dos Planos Setoriais, de...? Em particular, quem e quantos terão contactado com os documentos seguintes?
Procure no Portal da CIG
Não será abusivo concluir que se as questões que fazem parte de tantas estratégias e planos, e que são objeto de um número significativos de publicações, fizessem parte do quotidiano das pessoas, em particular nas suas situações de trabalho, não provocariam «surpresa» - mesmo «choque», segundo a comunicação social - quando se pretende que sejam implementadas. Nem fomos confirmar mas temos de memória que a questão da «linguagem inclusiva» está planeada e programada e fixada nos DOCUMENTOS INSTITUCIONAIS em vigor, nacionais e setoriais. E em sede comunitária e mundial. Também na Defesa.
A experiência individual vale o que vale, mas com base nela atrevemo-nos a dizer que muito do que existe e que tantos anos levou a construir a nível nacional, comunitário, mundial, e que nos deve orgulhar, se passa como que «à parte» quando a nosso ver, no século XXI, deve estar «em toda a parte». No ADN das organizações, onde tudo acontece. Para o assunto se espalhar a nossa sugestão/proposta, de há muito, é que cada ORGANISMO - mais do que o Setor - seja o objeto de intervenção e a matéria da IGUALDADE contemplada no seu Plano Anual de Atividade Global - e ser preocupação de todos, do pensamento à ação. E não exclusivo dos «especialistas» sem que, contudo, sejam negados ... Se bem olhado, ainda que haja quem possa dizer o contrário - afirmando, nomeadamente, que isso não está proibido - é uma mudança de PARADIGMA. Ainda, o que se passou com a Defesa já aconteceu com outros, e certamente acontecerá noutras realidades se iniciativa equivalente for desencadeada. Mas é claro que os «estrondos» variam de lugar para lugar, e conforme os protagonistas.
E, sim, ninguém negará a necessidade de «prioridades», mas todos aceitaremos que «ao mesmo tempo» temos de garantir uma diversidade de iniciativas. De maneira sistémica. E a(s) Igualdade(s), nomeadamente a linguagem inclusiva, não podem ser esquecidas. Têm de estar lá, de forma colaborativa e partilhada. Dado o enfoque deste blogue, isto é, do EM CADA ROSTO IGUALDADE, não esqueçamos a força da CULTURA E DAS ARTES nas transformações desejadas.
Uma pequena nota final: haverá quem ainda se lembre do estranho que soava quando pela primeira vez começámos a dizer Primeira Ministra - no tempo de Maria de Lourdes Pintasilgo - e hoje...é natural. É isso, primeiro estranha-se, depois entranha-se ...