SINOPSE
SINOPSE
Voltemos a «ESTRANHEZAS» com que MARIA TERESA HORTA venceu o Prémio Literário Casino da Póvoa.
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Sem iludir (como nos demais livros não-temáticos) uma unidade essencial, Estranhezas desdobra-se por sete capítulos que não encobrem uma continuidade quase vital: No Espelho, Paixão, Da Beleza, Alteridades, Tumulto, Ferocidades e À Beira do Abismo.
É que se o eu horteano está bem patente no primeiro, segundo e último capítulo, os outros e outras de «Alteridades», «Tumulto» e «Ferocidades» são magníficos desenhos traçados pela mesma mão que escreveu os primeiros.
Tudo isto sob o signo da asa. Que a capa de «Dürer» bem afirma, e o poema «A Asa», da contracapa, explana, numa poderosa manifestação do talento de Maria Teresa Horta:
- De súbito
Dürer...
a asa que pintaste
há séculos
ganha voo
com a sua dúctil
e indócil beleza
Com a sua estranheza
Um autor «esquecido» comparável a Faulkner. Uma história de coragem, de independência - e um emblema da luta pela dignidade humana.
Um dia, Tucker Caliban, descendente de um lendário escravo rebelde, abandona simplesmente as suas terras - não sem antes salgar os campos, abater o cavalo e a vaca e incendiar a própria casa. Parte para o Norte, com a mulher grávida e o filho pequeno, dando, com este gesto, origem a um inesperado êxodo de toda a população negra do estado. Este episódio de desobediência não violenta - que decorre num estado segregado (ficcional) do Sul dos Estados Unidos no fim dos anos 50 - é contado pelas testemunhas brancas, totalmente estupefactas e impotentes.
A trama constrói-se em torno da história dos Willsons, um clã de proprietários de escravos no passado, cujo último herdeiro, David Willson, vendeu uma parcela da antiga plantação ao criado, Tucker Caliban: ou seja, as terras em que os pais e avós deste viveram em escravidão.
Publicado pela primeira vez em 1962 e redescoberto em 2018, o icónico romance que William Melvin Kelley escreveu com apenas vinte e quatro anos catapultou o seu autor para a galeria dos grandes clássicos americanos. A revista The New Yorker referiu-se-lhe como «o gigante perdido da literatura americana». Saiba mais.
E na ARTE CAPITAL:
«É uma excelente iniciativa este livro sobre mulheres fotógrafas editado na Textuel por Marie Robert e Luce Lebart: ninguém pode contestar que as mulheres fotógrafas não são suficientemente conhecidas, não são visíveis o suficiente e que, para corrigir esta situação, merecem exposições em museus, livros e revistas. A primeira exposição coletiva no mundo de fotógrafas femininas teve lugar há 115 anos em Hartford, Connecticut, em abril de 1906; mais tarde, houve a exposição fundadora de Margery Mann e Anne Noggle no SFMoMA em 1975. A primeira exposição dedicada a mulheres fotógrafas na Europa foi na Pinakothek de Munique, em 2008, e a primeira em França, em 2009, na Gulbenkian Paris, uma notável exposição com uma centena de mulheres fotógrafas (ao mesmo tempo que elles@centrepompidou, no entanto, apenas 15 das 100 mulheres expostas na Gulbenkian estavam representadas no Pompidou, com uma seleção mais francesa), mas que, curiosamente, teve muito pouco eco (provavelmente este assunto não era visto na altura como um assunto interessante, nem militante; confesso não a ter visto na altura, só mais tarde a ter descoberto, através de amigos portugueses, pelo seu excelente catálogo), seguido por esta, muito mais divulgada, na Orangerie e Orsay em 2015 (mais de 150 artistas). As mulheres fotógrafas merecem revistas como a Femmes Photographes e a edição especial da Katalog, e livros como este: não há muito mais em francês, ao contrário da profusão de livros em inglês; demasiadas vezes, em França, preocupamo-nos apenas com as estatísticas brutas que contabilizam publicações, menções na imprensa e presenças em exposições e festivais, sem as acompanharmos com uma reflexão substancial. A bibliografia, muito bem feita, enumera 150 livros: apenas quinze estão em francês (incluindo traduções), mas quase 120 em inglês. Este grande livro (500 páginas) apresenta monografias curtas (uma página, uma imagem) sobre mais de 300 fotógrafas, desde o princípio da fotografia (Anna Atkins, nascida no século XVIII) até hoje (a mais jovem, Newsha Tavakolian, tem 40 anos); a ordem é cronológica (ano de nascimento), e um índice permite recuperar a ordem alfabética. Note a diferença entre as duas primeiras imagens: a escolhida para a capa (será um manifesto subliminar?) apontando a sua arma ao leitor, é possível ser vista como a marca da violência agressiva, enquanto a da fotógrafa mais jovem (Portrait de Negin à Téhéran, 2010) prefere denotar uma atitude calma e assertiva de defesa contra a violência. Duas facetas, dois estilos. (...)». Continue a ler, não perca.
Mais uma notícia triste. Morreu a Irmã Maria Domingos. Quem alguma vez assistiu às iniciativas das «Monjas do Lumiar», a todos e a todas destinadas, independentemente do seu credo, terá dela, certamente, uma lembrança luminosa.
«(...) Ao longo de mais de duas décadas, as Irmãs Dominicanas do Lumiar organizaram debates mensais sobre temáticas relacionadas com a evangelização no contexto atual, contando com a colaboração, como conferencistas e dinamizadores de ciclos temáticos, dos padres dominicanos e também do cardeal D. José Tolentino Mendonça.“Aquela comunidade foi um sinal do que significa viver do trabalho: os doces que fabricavam, os livros que vendiam, as conferências que promoviam, a arte que disponibilizavam fez delas uma verdadeira casa de pregação”, acrescenta o dominicano freio Filipe Rodrigues.O Mosteiro das Monjas Dominicanas do Lumiar encerrou em março de 2019 e as três irmãs que aí habitavam, nomeadamente a irmã Maria Domingos, foram viver para o Mosteiro de Fátima.(...)».
Recordamos a sua alegria, a maneira fresca como dialogava com os participantes nos acontecimentos que promoviam. Em regra os convidados para as intervenções organizadoras eram figuras de excelência, por exemplo, por mais de uma vez lá esteve Luís Miguel Cintra. Este post para divulgarmos o«Testamento da Irmã Maria Domingos» a que se refere a imagem inicial: em jeito de homenagem e, em especial, de agradecimento pelos momentos a que tivemos o privilégio de assistir. leia aqui.
«Nunca pensei escrever um segundo livro de memórias, embora o primeiro tivesse como título Retrato inacabado.
No entanto, o tempo foi passando e comecei a anotar numa espécie de
diário o que me ia acontecendo, o que ia observando, o que me despertava
mais interesse… e assim surgiu este No palco da memória, para
que fique um registo daquela que ainda sou, uma referência aos trabalhos
em que fui participando, e até um recordar do que se escreveu a meu
respeito.»
Eis uma voz única, a de Carmen Dolores, que nos
entrega aqui, desta vez por escrito, um testemunho precioso de uma longa
vida em que o Teatro desempenhou um papel decisivo. Cruzamento de
passado e presente, de memórias e vida, de vozes e de silêncios, esta é
também a história de uma mulher e do seu tempo, história que ela tornou
exemplar pelo empenho e sensibilidade com que sempre a viveu. Saiba mais.
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Este post porque ontem a triste notícia: morreu Carmem Dolores.
«Com a colaboração de 33 museus em todo o mundo, esta exposição põe em destaque mais de 800 pinturas, fotografias e objetos pertencentes à artista mexicana. É possível examinar cada peça ao mínimo pormenor».
«(...)La primera exposición que organiza el Museo Nacional del Prado tras su reapertura, “Invitadas”, tiene como objetivo ofrecer una reflexión sobre el modo en el que los poderes establecidos defendieron y propagaron el papel de la mujer en la sociedad a través de las artes visuales, desde el reinado de Isabel II hasta el de su nieto Alfonso XIII. En este tiempo el Museo del Prado se convirtió en elemento central de la compra y exhibición de arte contemporáneo y desempeñó un papel sustancial en la construcción de la idea de escuela española moderna. (...)». Leia mais.
«O Museu do Prado resolveu não só reabrir as suas exposições como apresentar uma faixa menos conhecida da arte espanhola cobrindo quase todo o século XIX e o primeiro terço do XX; mas não mostrou à toa, apresentando apenas a qualidade e variedade da pintura dessas épocas, mais alguma escultura e artes decorativas, traçou um propósito e investigou um tema e uma mentalidade com documentos figurativos exemplares, independentemente das opções estéticas que iam variando, romantismo, realismo burguês, naturalismo... “Fragmentos” lhe chamou, com inteira pertinência, pois a multiplicidade dos temas e das obras divide-se em diversos capítulos, 17 no total: sobre o olhar e o poder masculino nas artes plásticas e a submissão, real ou fictícia, da mulher até às manifestações de revolta e, sobretudo, de independência de algumas mulheres artistas.
O percurso, num claro audioguia, vai da imagem da rainha à da prostituta, pobre ou de luxo, do retrato de aparato ao voyeurismo do nu, este com os mais diversos pretextos, da saída do banho à representação “histórica” da escrava, da mulher feita à criança impúbere, em imagens de uma pedofilia apenas disfarçada, impraticável no nosso tempo. Pedofilia e agressão que uma obra bem significativa documenta: “O Sátiro” (1908), de Antonio Fillol (1870-1930); imagem de um pátio de prisão onde uma menina se recusa a olhar para uma fila de reconhecimento onde se encontra o seu agressor. Acontece que, ao contrário das obras “pedófilas”, esta foi recusada por um júri.
Da mulher modelo, a mostra passa à mulher artista remetida a géneros considerados menores, a cópia, a natureza-morta, a miniatura, ou a artes “menores” também; não esquece, porém, aquelas mulheres artistas que souberam afirmar-se tantas vezes tendo o autorretrato como arma e manifesto de independência, como acontece com uma artista nascida em Portugal, Maria Roësset (Espinho, 1882-Manila, 1921)». Luís Porfirio | Expresso | 12|02|2021.
Os Enamoramentos foi eleito o melhor livro do ano pela imprensa literária espanhola, no mesmo ano em que Javier Marías recebeu o Prémio Literário Europeu, pelo conjunto da sua obra.
Edição Premium, de capa dura e com sobrecapa, a um preço Especial. Saiba mais.
«Com Nalini Malani, artista, e Philippe Vergne, Diretor do Museu.
Serralves apresenta pela primeira vez em Portugal o trabalho da conceituada artista internacional Nalini Malani (Carachi, 1946). Esta exposição ocorre após a atribuição à artista de uma das mais prestigiantes distinções no mundo da arte contemporânea: o Prémio Joan Miró em 2019. Amplamente conhecida pelas suas pinturas e desenhos, a mostra em Serralves apresenta exclusivamente as suas animações desenvolvidas entre finais dos anos 1960 e a atualidade.
Nesta conversa com a artista partiremos do núcleo de obras da sua autoria, patentes na exposição que Serralves lhe dedica, sob o título UTOPIA!? para tocar em temas que percorrem a sua já longa carreira. Foi no final da década de 1960, numa cena artística indiana dominada por homens, que Nalini Malani emergiu como uma voz provocatória e feminista, igualmente pioneira no trabalho com meios artísticos como o cinema experimental, a pintura, o vídeo e a instalação. Em diálogo com uma das personalidades mais marcantes do panorama artístico contemporâneo internacional, abordaremos as facetas distintas do seu percurso, procurando saber como encara o futuro da arte perante os desafios do mundo de hoje». Daqui.
E sobre a exposição: neste endereço.
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Da entrevista que Nalini Malani deu a Alexandra Carita publicada no Expresso desta semana:
«(...)
Tem vindo a falar de feminismo, violência, racismo, desigualdade social... Estes temas ainda traduzem as suas preocupações?
Sim. Acho que, como Hannah Arendt disse, temos de deixar este mundo melhor, para o darmos ao futuro. Somos convidados do planeta. Tenho 75 anos... O que deixo eu aos outros? Gandhi disse que temos o suficiente para as nossas necessidades, mas não temos o suficiente para a nossa ganância. A ganância é o pior. Quanto dinheiro podemos juntar só para nós? O que fazemos com tantos diamantes e tanto dinheiro? Quanto é que se pode comer? É uma loucura. Toda esta ideia de capitalismo tóxico está a arruinar a Terra. E isso tem a ver com a masculinidade.
Como foi crescer numa Índia tão masculina?
Muito duro. Aqui, as mulheres são quase cidadãos de segunda classe. Não têm voz. Mesmo hoje, as mulheres são tratadas como crianças. Porém, e voltando à agricultura, 75% do trabalho agrícola é feito por mulheres. E o nosso ministro diz que essas pobres mulheres, que também se manifestam, devem voltar para casa com as crianças. Elas tiveram de levantar-se e dizer que tinham o direito de estar ali. “Sabemos o que é melhor para nós. Não nos infantilizem.” Isso é o mais importante, não infantilizar as pessoas. Tudo soa tão amável e paternalista. É como se nos dessem uma pancadinha nas costas e nos dissessem: vão para casa descansar, vocês são mulheres. No entanto, não há respeito pelas mulheres. Há violações a cada minuto.
Já fez um trabalho a propósito de uma violação coletiva, em 2018, com o título “Can You Hear Me”.
Foi o caso de uma criança de 8 anos que foi violada em Caxemira por oito homens adultos. Durante uma semana não lhe deram de comer, só drogas, até que a violaram, lhe bateram com a cabeça numa pedra e a asfixiaram. Esse trabalho era uma animação de homenagem a essa criança.
(...)»
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Saiba mais no site da artista.
«No quadro do lançamento da SEMANA DA IGUALDADE entre 8 e 12 de Março, sob o lema Defender a Saúde, Dignificar o Trabalho, Avançar na Igualdade, a Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens - CIMH/CGTP-IN, divulga, ao longo do mês de Fevereiro, sete estudos temáticos sobre a Situação da mulher no trabalho agravada pela pandemia, pela falta de medidas adequadas do governo e pelas práticas patronais.
Pode ler os Estudos aqui:
» Estudo 1 - Natalidade e Fecundidade (04.02.2021)
» Estudo 2 - Problemas de saúde relacionados com o trabalho (08.02.2021)
» Estudo 3 - O direito à habitação e os seus custos (11.02.2021)»
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O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço preparou um evento virtual para celebrar a “Astronomia no Feminino”.
Este livro reúne 51 cartas comoventes, eufóricas, apaixonadas e sofridas.
Foram escritas por grandes figuras, de Virginia Woolf a Beethoven, de Napoleão a Karl Marx.
Dão-nos lições de dignidade, de paixão, de amorosa resignação. Ensinam-nos os caminhos da alegria, do desejo e da perda. Saiba mais.
A investigação baseou-se em dezassete entrevistas presenciais, a mulheres cujo papel desempenhado no âmbito da direção de fundações, museus, galerias, ensino superior, crítica, curadoria e colecionismo de arte marcou a dinâmica cultural e artística entre a década de 1960 e a atualidade.
Fruto desta investigação, estabeleceu-se um quadro de compreensão da presença da mulher nas práticas discursivas e institucionais, permitindo uma releitura do domínio artístico em Portugal neste período, colocando-o a par de outros países no que concerne a estudos de género.
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O que sobre o livro escreveu Valdemar Cruz no semanário Expresso desta semana:
«Em 1943, a galeria de Peggy Guggenheim organizou, com Marcel Duchamp, uma inovadora exposição com 31 artistas mulheres. Ao fazê-lo, marcava uma posição e lançava uma questão perturbadora para o interior da arte de vanguarda: estariam as mulheres condenadas ao papel de musas, quase sempre reduzidas a objeto no qual incide a voluptuosidade do olhar masculino? A questão atravessa como lâmina cortante grande parte deste intenso e fundamental trabalho de Manuela Hargreaves, apostado em analisar e problematizar o papel das mulheres numa nova perceção da história da arte contemporânea em Portugal e também na construção das práticas discursivas das principais instituições culturais portuguesas a partir dos anos de 1960. O longo, penoso, quase sempre difícil percurso das mulheres na luta pela eliminação das desigualdades mantém uma atualidade perversa, não obstante os óbvios progressos conseguidos nas últimas décadas. Ao concentrar-se no percurso e na intervenção das mulheres no campo exterior à criação artística, a autora abre caminho para uma melhor compreensão do modo como, sem perder de vista o carácter ainda excecional de cada caso, algumas mulheres conseguiram impor-se como curadoras, colecionadoras, galeristas, críticas de arte ou investigadoras, num processo que, tardio em Portugal, acompanha as transformações antes iniciadas noutras partes do globo. Com uma investigação baseada em 17 entrevistas presenciais a mulheres ligadas à direção de fundações, museus, galerias, ensino superior, crítica, colecionismo e curadoria, a autora apresenta ainda a singularidade de casos como os de Dulce d’Agro, Salette Tavares, Ana Hatherly, Etheline Rosas, Maria Nobre Franco e Madalena Azeredo Perdigão, que em tempos diferentes deram contributos essenciais para o esboço de um ideal de participação paritária da mulher na vida cultural e artística em Portugal». / VALDEMAR CRUZ».
«Na condição de coordenadora do grupo da Esquerda Unitária na comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Género no Parlamento Europeu, Sandra Pereira dirigiu cartas às embaixadas da Polónia e Eslováquia em Lisboa, a deplorar o que classifica como "retrocessos legislativos" que "atentam contra a salvaguarda da saúde, dos direitos e da dignidade das mulheres, com riscos acrescidos para as mulheres das camadas mais desfavorecidas social e economicamente".
As cartas foram subscritas por 65 mulheres portuguesas, com intervenção em várias áreas, em solidariedade com a luta das mulheres polacas e eslovacas pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez, tendo hoje Sandra Pereira indicado à Lusa que, ao tomarem conhecimento da iniciativa, mais mulheres quiseram associar-se à causa.
"É com agrado que vemos que as mulheres portuguesas responderam ao repto desta iniciativa em solidariedade com as mulheres polacas e eslovacas, não só as que constam na carta, mas, mesmo depois de esta ter sido anunciada, houve mulheres que se quiseram associar à causa e subscrevê-la", declarou. (...)». Leia na integra.